Dois pesos, duas medidas: o contraste escandaloso entre os julgamentos de Lula e Bolsonaro

Entre nulidades processuais e acusações controversas, o contraste revela a seletividade da Justiça brasileira.

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Não sou, nunca fui e nem pretendo ser admirador de Jair Bolsonaro. Discordo de sua forma de governar, de seu discurso agressivo e da maneira como lidou com questões fundamentais do país. Não me identifico com seu projeto político nem com a imagem de liderança que ele tentou construir.

Ainda assim, justamente por não gostar dele, considero importante analisar de forma crítica como o sistema judicial brasileiro tem tratado seu caso. A comparação com os processos que envolveram Lula escancara uma diferença de postura das instituições, revelando que, independentemente da simpatia ou antipatia que se tenha por determinados personagens, a Justiça deve ser imparcial, e é exatamente isso que parece estar em jogo.

O caso Lula: condenações robustas, anuladas por formalidades

No escândalo do Petrolão, Lula foi julgado na Justiça comum em primeira instância e passou por todas as etapas de recurso: Tribunal Regional Federal, Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal. Suas condenações foram unânimes nesses colegiados, reforçadas por provas abundantes, delações, documentos e bilhões de reais recuperados aos cofres públicos.

Mesmo assim, as ações penais foram anuladas pelo STF sob o argumento de falhas processuais e parcialidade do juiz de primeira instância. Importante frisar: Lula não foi absolvido, mas sim beneficiado por decisões de natureza técnica e controversa.

O caso Bolsonaro: julgamento político sob acusações controversas

O processo contra Bolsonaro seguiu caminho diferente. Em vez da Justiça comum, foi levado diretamente ao STF, sem outra instância acima para revisar a decisão. Isso não significa ausência de recursos, mas limita a revisão ao próprio Supremo.

A denúncia contra ele trata de crimes graves, como tentativa de golpe e abolição do Estado de Direito, ambos previstos no Código Penal. Tais crimes exigem prova de conduta violenta ou de coação, e até agora o que existe são documentos, vídeos e delações que dividem opiniões sobre sua força probatória. Não há consenso sobre a participação direta do ex-presidente, e caberá ao STF decidir se esse conjunto é suficiente para condená-lo.

Direitos de defesa: liberdade para uns, mordaça para outros

Há também diferenças no espaço dado à defesa pública. Mesmo após a prisão, Lula manteve redes sociais ativas por meio de sua equipe e conseguiu participar da articulação política de sua legenda.

Já Bolsonaro enfrenta restrições severas: desde julho de 2025 cumpre medidas cautelares que incluem tornozeleira eletrônica, proibição do uso de redes sociais e limitações de contato. Em agosto, foi colocado em prisão domiciliar por descumprimento dessas regras, tudo isso antes de um julgamento final. Essa diferença de tratamento gera a percepção de desequilíbrio e reforça a ideia de uma sanção política prévia.

A conclusão inevitável

A comparação expõe uma disparidade clara. De um lado, um político condenado em várias instâncias, mas beneficiado por nulidades processuais. Do outro, um ex-presidente julgado sob acusações ainda cercadas de controvérsia, já submetido a restrições excepcionais antes de sentença definitiva.

Esse contraste revela mais do que diferenças de processos: escancara a seletividade da Justiça brasileira. No fim, a questão que se impõe não é apenas sobre Lula ou Bolsonaro, mas sobre a capacidade das instituições de garantir julgamentos justos, imparciais e acima das paixões políticas.

Vale ressaltar que as opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do autor e não refletem, necessariamente, a posição da i7 Network. Sempre incentivamos a análise crítica e a busca por informações embasadas antes de formar qualquer opinião.