Após anos de espera por transplante, paciente recebe órgão doente e hoje vive em cuidados paliativos

Exame genético confirmou que o tumor no órgão transplantado veio do doador; caso é descrito como raro.

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O paulista Geraldo Vaz Junior, de 58 anos, descobriu que o fígado recebido em um transplante realizado pelo Proadi-SUS, no Hospital Albert Einstein, em julho de 2023, continha nódulos cancerígenos. Meses após a cirurgia, uma biópsia revelou adenocarcinoma, e testes de DNA confirmaram que o tumor veio do órgão doado. Em maio de 2024, ele passou por um retransplante, mas exames apontaram metástases no pulmão. Segundo a esposa, o impacto foi devastador: “Ele recebeu um órgão com câncer. Esperamos por anos e saímos de lá mais doentes.” Hoje, ele segue em cuidados paliativos.

De acordo com o Manual dos Transplantes, do Ministério da Saúde, todos os doadores passam por rigorosa triagem clínica, laboratorial e de imagem. O risco de transmissão de câncer é inferior a 0,03%.

Em nota, a pasta afirmou que não foram encontrados indícios de doença no doador e que o órgão havia sido inspecionado antes do transplante. A família acionou o Ministério Público e o Ministério da Saúde para investigar o caso.

Triagem de órgãos e risco residual em transplantes

Especialistas afirmam que, embora raríssima, a transmissão de câncer por transplante é biologicamente possível. O oncologista Stephen Stefani explica que células tumorais microscópicas podem escapar aos exames. A médica legista Caroline Daitx confirmou que o DNA do tumor era do doador, não do receptor: “O exame mostrou que as células cancerosas pertenciam à pessoa que doou o fígado.” A combinação entre a presença dessas células e o uso de imunossupressores pode ter favorecido o crescimento da doença.

Ministério da Saúde e próximos passos do caso

O cirurgião oncológico Pedro Luiz Bertevello destacou que pacientes imunossuprimidos ficam mais vulneráveis a infecções e tumores. Para ele, o caso se enquadra em uma fatalidade médica e não necessariamente em erro. A família, porém, cobra explicações e medidas preventivas. O Ministério da Saúde reforça que os protocolos de segurança foram seguidos, mas o episódio reacende a discussão sobre consentimento informado e auditorias em situações de suspeita de neoplasia oculta.