A prisão de Gabriela Cristina Elias de Jesus, moradora do Complexo da Penha, reacendeu o debate sobre os limites das operações policiais em comunidades do Rio de Janeiro. A mulher, que trabalha como faxineira, foi detida após realizar uma transmissão ao vivo durante uma megaoperação contra o Comando Vermelho, no dia 28 de outubro.
De acordo com relatos de sua mãe, Selma Elias de Jesus, Gabriela iniciou a transmissão enquanto tentava impedir que os agentes invadissem sua residência, onde estavam apenas mulheres e crianças. Selma afirmou que a filha foi agredida durante a ação, tendo o cabelo puxado pelos policiais, e que não havia nenhum suspeito dentro da casa.
Suspeita de injustiça
Durante a gravação, a mulher afirmou que era apenas moradora da comunidade e não envolvida com o tráfico. Nas imagens analisadas pela imprensa, os policiais aparecem na porta da casa, onde também é possível ver uma criança de colo. Segundo a família, os agentes chegaram a utilizar spray de pimenta no local. Apenas Gabriela foi levada pelos policiais. A mãe manifestou preocupação com a possibilidade de a filha ter sido injustamente associada ao tráfico, ressaltando que ela é trabalhadora, paga aluguel e cria sozinha o filho de seis anos.
O Ministério Público do Rio de Janeiro informou que Gabriela foi autuada pelos crimes de associação para o tráfico e resistência. O órgão alegou que ela teria transmitido informações sobre a localização dos policiais durante a operação, o que teria provocado novos disparos vindos de outro ponto da comunidade. O MP também afirmou que a mulher tentou tomar o fuzil de um agente, sendo necessário o uso moderado da força para contê-la.
Especialistas contestam acusação
A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro considerou as acusações desproporcionais. O defensor Marcos Paulo Dutra Santos classificou o caso como exagerado e baseado em especulações. O professor Thiago Bottino, da FGV Direito Rio, também contestou a acusação, afirmando que a transmissão ao vivo não configura associação ao tráfico, mas sim uma tentativa de proteger a própria casa. Segundo ele, se esse tipo de conduta fosse criminalizado, todas as mães e avós das comunidades poderiam ser suspeitas do mesmo crime.
