Mulher conta como escapou do ataque que matou duas colegas em escola: ‘Se eu não tivesse…’

Colega de trabalho afirma que homem vigiava sua rotina e apresentava rigidez; duas servidoras faleceram após serem atingidas.

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O atentado ocorrido na tarde de sexta-feira (dia 28), na unidade Maracanã do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet) Celso Suckow da Fonseca, resultou no falecimento de duas servidoras e gerou comoção na comunidade acadêmica.

Além das vítimas fatais, uma funcionária da instituição, que optou pelo anonimato, revelou que também se sentia alvo do autor dos disparos, João Antônio Miranda Tello Ramos Gonçalves. A servidora acredita que sua integridade física foi preservada apenas por uma alteração em sua rotina naquele dia específico. O episódio trágico vitimou a professora Allane de Souza Pedrotti Matos e a psicóloga escolar Layse Costa Pinheiro, ambas atingidas no ambiente de trabalho.

Segundo o relato da funcionária, o comportamento de João Antônio no ambiente profissional apresentava sinais de deterioração ao longo dos anos, caracterizado por isolamento e severidade no trato com os demais.

A testemunha descreveu uma sensação constante de vigilância por parte do colega. “Me perseguia, vigiava a minha entrada na escola e no setor, discordava da maneira que eu trabalhava. Se eu não tivesse saído meia hora mais cedo ontem, teria morrido também”, afirmou a servidora.

Ela detalhou ainda que a conduta do homem se agravou recentemente, afetando outros colaboradores. “Ficou rígido demais, perseguindo os colegas e até superiores. Tudo era motivo, o horário que chegavam na escola, o quanto trabalhavam, decisões pedagógicas”, completou a funcionária sobre o perfil do atirador.

Histórico funcional e disputa judicial

Informações apuradas indicam que João Antônio, servidor desde 2014, movia uma ação judicial contra a União há quatro meses, alegando assédio moral. No processo, ele relatava ter sido transferido de setor contra sua vontade e afirmava ser vítima de retaliação administrativa, citando esvaziamento de funções e exclusão de espaços decisórios.

A defesa do servidor argumentou nos autos que havia laudos médicos indicando o agravamento de seu quadro de saúde devido ao ambiente laboral. O homem chegou a cumprir uma suspensão cautelar de 120 dias e, ao retornar, foi alocado em um terceiro departamento. Na última terça-feira, a Justiça Federal encerrou o processo sem julgamento do mérito, sob o entendimento de que a instituição de ensino possui autonomia administrativa.

As vítimas fatais possuíam trajetórias acadêmicas consolidadas na instituição. Allane de Souza Pedrotti Matos, doutora em Letras pela PUC-RJ com período de pesquisa na Dinamarca, atuava na coordenação pedagógica e presidia comissões internas.

Além da carreira na educação, ela era cantora e integrava o Grupo Quilombo Urbano. Já Layse Costa Pinheiro, primeira colocada no concurso de 2014 para psicóloga, trabalhava na área de Psicologia Escolar desde 2017 e possuía especialização em Gestão de Pessoas. Ambas foram socorridas e encaminhadas ao Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro do Rio de Janeiro, mas não resistiram aos ferimentos provocados pelo ataque.

Procedimentos policiais e luto institucional

Após atentar contra a vida das colegas, João Antônio tirou a própria vida no local. O caso está sob responsabilidade da Delegacia de Homicídios da Capital, que conduz as investigações para esclarecer todas as circunstâncias do ocorrido.

Em resposta à tragédia, a Direção-Geral do Cefet decretou luto oficial de cinco dias na instituição, com início previsto para 1º de dezembro de 2025.