A tentativa de organizar uma greve nacional de caminhoneiros nesta quinta-feira (4) acabou perdendo força ainda na fase de mobilização. Embora as redes sociais tenham amplificado convocações e divulgado pautas variadas, lideranças tradicionais do transporte rodoviário afirmam que o movimento não seguiu os trâmites necessários para ser considerado legítimo. O cenário repete tensões que já apareceram em anos anteriores, mas desta vez com um peso político mais evidente.
Entre os pontos levantados pelos organizadores informais, surgiram demandas que extrapolam o universo do transporte, como pedidos de mudanças no serviço público, críticas ao STF e até a defesa de anistia para condenados pelos atos de 8 de Janeiro. Para lideranças regionais, essa mistura enfraqueceu a paralisação desde o início. Luciano Régis, de Santa Catarina, avaliou que a categoria acabou usada para disputas que não pertencem aos caminhoneiros.
Motivação política
A falta de organização interna também foi decisiva. Representantes do setor ressaltam que uma greve precisa de assembleias e definição formal de reivindicações, o que não ocorreu desta vez. Hemerson Galdim, da Fenttrocar, observou que a mobilização surgiu de forma repentina e com forte motivação política, o que desviou o debate de questões históricas da categoria como o piso mínimo, o Marco Regulatório do Transporte de Cargas e regras de pesagem.
Nas redes, um vídeo divulgado pelo representante da União Brasileira dos Caminhoneiros ao lado do desembargador aposentado Sebastião Coelho tentou dar respaldo jurídico ao ato, anunciando o protocolo de uma ação nacional. A iniciativa circulou entre parlamentares alinhados à direita, mas encontrou resistência dentro do próprio grupo. O deputado Zé Trovão, influente entre caminhoneiros, rejeitou a paralisação e ponderou que o movimento poderia criar instabilidade desnecessária no momento político atual.
Greve desarticulada pode ter impacto em todo o país
Mesmo lideranças conhecidas por grandes mobilizações passadas adotaram postura cautelosa. Wallace Landim, o Chorão, destacou que cada cidadão tem direito de protestar, mas alertou para o impacto que uma greve desarticulada teria no país, especialmente diante da importância do transporte rodoviário para o abastecimento. Com a categoria dividida e sem consenso sobre as pautas, a convocação terminou esvaziada antes mesmo da data marcada.
