Na calada da noite, ministro do STF revoga bloqueio que envolve beneficiários do Bolsa Família

Medida atende pedido de associação de jogos, mas mantém proibição para novos cadastros de quem recebe auxílio social.

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O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou nesta quinta-feira (19) a suspensão parcial da norma que impedia beneficiários do Bolsa Família e do Benefício de Prestação Continuada (BPC) de realizarem apostas online.

A decisão atende a uma solicitação da Associação Nacional de Jogos e Loterias, que argumentou a proximidade do recesso do Judiciário e a possibilidade de prejuízos ao setor. Apesar da liberação para usuários que já possuíam cadastro, o magistrado manteve a proibição para a criação de novos registros por parte de cidadãos que recebem auxílios estatais.

A medida cautelar derruba a exigência anterior, publicada pelo Ministério da Fazenda, que obrigava as empresas a bloquear contas e devolver saldos ao identificar CPFs de beneficiários no sistema.

A associação do setor alegou o risco de “danos irreversíveis” causados pelos atos normativos caso as restrições totais fossem mantidas imediatamente. Com a nova determinação, a regra permanece válida até a realização de uma audiência de conciliação sobre o tema. O encontro, que estava previsto inicialmente para março, foi antecipado pelo ministro para o dia 10 de fevereiro.

Fiscalização de apostas e histórico

Antes da decisão atual, o governo federal havia estabelecido que as plataformas de apostas deveriam consultar regularmente o Sistema de Gestão de Apostas (Sigap). O objetivo era cruzar dados para verificar se os usuários constavam na base de beneficiários de programas sociais, bloqueando o acesso caso positivo.

No ano anterior, o próprio Fux havia determinado que o governo impedisse o uso de verbas assistenciais nessas plataformas, acolhendo parcialmente pedidos da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e do partido Solidariedade.

O ministro é o relator das ações que questionam a legislação das bets, aprovada em 2023 para regular a atividade legalizada no país desde 2018. Em declarações anteriores sobre a necessidade de controle do setor, Fux ressaltou a importância de regras claras para o funcionamento desse mercado.

Durante uma audiência pública realizada no Supremo Tribunal Federal em novembro do ano passado, o magistrado afirmou que “sem regulação, não se pode permanecer nessa atividade”, destacando a urgência do tema para a sociedade.

Dados sobre gastos com apostas

A preocupação com o fluxo de recursos de programas sociais para o mercado de apostas baseia-se em dados divulgados pelo Banco Central no ano passado. Um relatório da instituição apontou que as empresas do setor receberam ao menos R$ 3 bilhões de beneficiários do Bolsa Família em apenas um mês.

O levantamento indicou que o valor médio por apostador foi de R$ 100, considerando um universo de 5 milhões de pessoas. Além disso, a análise revelou que cerca de 70% desses usuários eram chefes de família e responsáveis diretos pelo recebimento do auxílio.