Desde o início do ano passado no São Paulo, o chefe da base tricolor, Pedro Smania, comemora o bom momento da equipe Sub-20, hoje comandada por Orlando Ribeiro e que tem obtido bom desempenho em torneios. O time decide neste sábado a Copa do Brasil da categoria, contra o Corinthians, no Morumbi, depois de perder por 2 a 1 na ida, semana passada. Ao Estado , Smania fala da transição de atletas para a equipe principal comandada por Diego Aguirre. De acordo com o coordenador, a presença de André Jardine na Barra Funda, tem facilitado este momento da carreira dos atletas, já que o atual auxiliar do time principal foi treinador do Sub-20 até poucas semanas e conhece a maior parte dos atletas em formação no clube.
Ele vê com bons olhos a iniciativa de Aguirre de fazer parte da intertemporada em Cotia, onde terá contato direto com as jovens revelações do São Paulo. “Os meninos serão observados diariamente e aprenderão mais rápido sobre exigência, foco, e isso agrega muito para o amadurecimento deles.”
O São Paulo Sub-20 tem mais uma decisão pela frente. Como é visto esse bom momento internamente?
Esses momentos vitoriosos têm sido uma construção ao longo do tempo. Todos estão bem satisfeitos com o desempenho desportivo em campo e felizes com o aproveitamento dos meninos que vão para o profissional e que dão o retorno esperado pela comissão técnica principal. Essa sinergia, aliada às vitórias, títulos e disputas de finais, fortalece o trabalho e tem sido motivo de orgulho.
Como tem sido o contato dos meninos da base com Aguirre?
Frequente e sempre um diálogo aberto. O relacionamento do André Jardine comigo e com Cotia tem facilitado muito essa integração. Tem sido cada vez melhor. Temos atletas de muito potencial formados na base. Aqui, priorizamos a formação do ser-humano, e isso se mostra importante na formação do atleta. O Liziero é um caso recente que podemos destacar. Tem sido acionado sempre, joga bem e teve uma adaptação rápida no profissional.
O São Paulo vai treinar dez dias em Cotia durante a Copa do Mundo. Como isso vai melhorar essa aproximação?
A decisão de fazer a intertemporada em Cotia foi da comissão principal. Estive com o Aguirre no CT da base, ele visitou tudo lá e ficou encantado. A presença deles não muda nossa programação. Ou seja, os jovens vão treinar nesses dias também. E para nós é um motivo de muita alegria. Os meninos serão observados diariamente. E a convivência traz proximidade. É saudável para a instituição.
O que esse contato com o time principal representa para um atleta em formação?
Independente de treinar no mesmo campo ou no do lado, é crescimento. Eles vão ver os ídolos deles ali, vão perceber o profissionalismo, o empenho no dia a dia, vão ver que durante toda a carreira deles a exigência só vai aumentar e que serão cobrados cada vez mais. É um crescimento importante.
Muitos atletas que mal subiram para o profissional neste ano já foram emprestados, como o Rony e o Pedro Augusto. Por que isso acontece?
É uma decisão da comissão profissional, mas quanto ao atleta, é para amadurecimento. A maioria desses jovens só tem sua formação total por volta dos 21, 22 anos. Então, esses empréstimos são muito bem vistos para que eles ganhem rodagem e experiência. Qualidade eles já têm. Então, precisam de experiência para amadurecer e voltar mais maduros para incorporarem o elenco do São Paulo. Tudo que é feito é sempre pensado no sucesso do São Paulo. E o sucesso passa por ter sempre os melhores atuando no profissional.
Mas muitos jovens acabam sendo vendidos rapidamente. Não frustra formar promessas e vê-las indo embora sem tempo de ajudar o clube em alguma conquista?
Nós gostamos de ver nossos atletas formados na base felizes. Essa é a realidade. Óbvio que a visão do clube é formar atletas para uso profissional. Mas este uso pode ter um retorno desportivo ou financeiro. Pessoalmente, com relação a eles, gosto de vê-los felizes. E a decisão final de sair ou não é sempre do atleta. Se a felicidade dele é esta, fico feliz. E é gratificante ver atletas como David Neres e Luiz Araújo atuando em alto nível na Europa tendo sido formados aqui. Nos sentimos orgulhosos.
Recentemente, denúncias relacionadas a assédio em categorias de base ganharam o noticiário esportivo. Como você vê esse problema?
Lamento perceber que esse tipo de coisa ocorra. Mesmo em outros esportes. Isso não tem a ver com esporte, é uma questão de educação a outro ser-humano. Mas é um assunto delicado, e que deve ser abordado para não cair no esquecimento. Tem de ser colocado tudo à luz das informações para que haja clareza sobre o que acontece ou não. Lamento muito esse tipo de notícia. Trabalhar com formação é trabalhar com sonhos e não se pode usar esses sonhos a seu bel-prazer.
Esse tipo de problema te preocupa no São Paulo?
O que compete a mim é ter muito cuidado. Trabalhamos com meninos em formação e graças a Deus o São Paulo é muito bem blindado em relação a isso. Temos dois psicólogos, um pedagogo e uma assistente social. Nos reunimos semanalmente e falamos sobre vários temas. Eles trazem a reunião qualquer eventual problema que algum atleta possa estar passando, como de álcool na família, drogas, e atendemos com muito carinho ao primeiro sinal detectado para resolver o problema. Quando a assédio sexual, essas denúncias só nos deixaram ainda mais com o sinal amarelo de alerta em pé, como já fazemos com qualquer outro problema.
Fonte: Estadão