Demitida da Globo, repórter relembra racismo que sofria de colegas

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A jornalista Camila Silva, demitida há três semanas da Globo São Paulo, deu uma entrevista ao UOL e fez revelações de como era o seu trabalho na emissora. Ela ficou por oito anos na casa e também contou os desafios que encontrou. Junto com Mariana Aldano, eram as únicas comunicadoras negras.

A carioca entrou como estagiária e no período de casa passou pela produção da Globo News e se destacou durante dois anos cobrindo os clubes paulistas para os programas de esporte da Globo.

Em maio, a direção resolveu alterar o turno da jornalista e consequentemente ela passou a pegar as escalas da madrugada, onde fazia reportagens e entradas ao vivo para o Bom Dia São Paulo. Antes, ela estava no núcleo do departamento de esportes do canal, porém, com a chegada de Mari Palma, ela foi substituída.

Sobre sua relação com os colegas, ela fez revelações ao repórter Paulo Paccheco do preconceito e críticas que sofria. Quando passou pela equipe de esporte, ela contou que era testada para saber se realmente sabia falar sobre futebol. Também compartilhou dois comentários que ouviu de cinegrafistas.

“Quando fui trabalhar na madrugada, um cinegrafista muito amigo meu perguntou: ‘Vão te colocar na madrugada? Essa gente está maluca? De noite, como vão fazer para trabalhar a luz com você?’. A preocupação dele era que eu era negra e que eu não ia aparecer. Obviamente deu tudo certo, mas quando ele falou pensei: ‘O que as pessoas acham que eu sou? Eu sou só negra’, mas estamos interiorizados com a história de as pessoas que trabalham no vídeo serem brancas”, disse.

“No Rio, um cinegrafista falou para mim: ‘Você é muito bonita, eu já te vi no vídeo, você trabalha muito bem, tem feito coisas muito boas. Você só deveria fazer uma chapinha nesse cabelo, né?’. A gente fica até sem palavras. As pessoas são ruins? Não acho isso. Mas elas têm isso interiorizado e nem se dão conta”, detalhou outro caso.

“Na época do ‘Mexeu com uma, mexeu com todas’ (campanha contra assédio, realizada pela emissora), havia gente na redação que fazia piadas. A pessoa não percebe que é machista! Mas para não ficar como a chata, a gente fala: ‘Tem certeza de que você pensa assim? E se fosse com alguém?’ Tentamos achar alguns meios para que aquilo não fique tão pesado no dia a dia”, recorda.