Mãe e filha chegavam em casa, na cidade de Lajeado, no Rio Grande do Sul, em 2008, quando perceberam que a porta da residência estava arrombada. Havia um assaltante dentro da casa. Ele rendeu as mulheres, abusou da filha e fugiu. Na cama, ficou uma marca de sangue.
A partir daí a vida de Israel de Oliveira Pacheco mudou totalmente. Ele foi preso na rodoviária da cidade, quando estava indo para Três Coroas visitar a família. Suas características físicas batiam com a relatada pela vítima.
Para piorar a situação, ele foi reconhecido como sendo o assaltante e abusador pela vítima. Exame de DNA provou que marca de sangue na cama não era sua, mesmo assim ele acabou condenado a 11 anos e seis meses, em segunda instância.
Nos últimos 10 anos, ele viveu como um condenado por estupro e roubo. Na última terça-feira (18), porém, ele alcançou uma grande vitória. A 1ª turma do Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília, levou em conta o exame de DNA e desconsiderou a prova testemunhal para inocentá-lo do crime.
“Teve muitas vezes que eu escutei coisas, que tive que sair de cabeça baixa por causa disso. Às vezes, chegar numa rua e as mães já tirarem as crianças por causa de uma coisa que eu não fiz“, afirma Israel.
De família humilde, Israel foi ajudado por um defensor público. O advogado Rafael Raphaelli entrou com recursos em todas as instâncias. “A condenação estava embasada no reconhecimento pessoal feito pela vítima, que, pela natureza humana, falha. Portanto, está sujeita a erros”, explica o defensor.
De acordo com o advogado, quando Israel foi reconhecido ele foi colocado sozinho em uma sala. A lei estabelece que o reconhecimento seja feito com mais de uma pessoa. Israel lamentou os momentos que passou dentro da cadeia e afirmou que nas mais de cinco audiências em que foi, sempre falou que era inocente, mas a Justiça nunca o escutou.
A Justiça cometeu dois erros: o primeiro foi o exame de DNA, que apontou que o sangue não era de Israel, mas, sim, de um outro homem. O segundo é que testemunhas afirmaram que Israel estava em um bar no momento do crime. Os álibis foram negados.
Agora, ele quer recomeçar a vida. “É vida nova. Ano que vem, já quero estar em um serviço bom, estar bem empregado, quero fazer a minha vida. Agora, eu arrumo um emprego bom“, diz ele, esperançoso em dias melhores.