A história do casal José Ferreira e Silmara Mourão, mecânico e dona de casa na cidade de Iguatu, no Ceará, é muito triste. Os dois estão de luto com a morte da filha de três meses, que tinha sintomas da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, no Hospital Regional de Iguatu. A bebê havia nascido com Síndrome de Barterr, doença rara que causa deficiência de potássio no orgamismo. Por esse motivo, ela ficava gripada com frequência.
Não houve tempo para que a bebê fosse transferida para um hospital de referência de Fortaleza. A suspeita da infecção por coronavírus fez com que a família tivesse apenas uma hora para se despedir.
Dois dias depois da morte, José e Silmara estavam muito abalados e receberam a ligação da Secretaria de Saúde, confirmando que a bebê havia morrido por Covid-19. A ligação caiu, após a profissional dizer que os pais também poderiam fazer o exame para diagnosticar a doença. O casal tentou retornar a ligação, mas não conseguiu.
A situação ficou ainda pior quando o prefeito da cidade, Ednaldo Lavor (PDS), confirmou a morte em live no Facebook. O administrador municipal não citou o nome da bebê, mas falou a idade e o bairro onde a família morava. A partir daí, os familiares passaram a receber muitas ligações.
A bebê morreu no dia 3 de abril. No dia 5, o prefeito falou sobre a morte em live. “Quando estávamos na situação mais frágil, o prefeito achou por bem machucar mais, falando da morte da nossa bebê no Facebook”, desabafou o pai da bebê, que ainda completou: “Na cidade, tem pessoas de alto escalão que estavam com a suspeita do coronavírus e nunca foi falado nada delas. Aí, só porque somos de classe inferior, rasgaram logo na rede social”, afirmou José, em entrevista ao The Intercept Brasil.
De acordo com José, após a fala do prefeito nas redes sociais, Facebook, Instagram e WhatsApp deles começaram a receber mensagens. O pai em luto ainda disse que fotos dele com a bebê foram publicadas em grupos e foram feitas reportagens em jornais locais.
O casal também foi vítima de fakenews, com a circulação da foto de uma criança em uma encubadora, como se fosse a bebê morta por Covid-19. A menina nunca ficou em incubadora. Além da bebê de três meses, João e Silmara têm outras duas filhas, de 11 e de 17 anos.