Uma médica pediu demissão do Hospital de Campanha do Maracanã. O motivo da saída foi a falta de estrutura que a profissional encontrou no local. Foi o primeiro e único dia de trabalho da médica anestesista Priscila Eisembert. Ela denunciou as dificuldades encontradas para trabalhar no local.
Ela revelou que faltam exames e medicamentos para os pacientes. “Tem muito profissional querendo trabalhar (…) mas infelizmente não dá pra ter estômago pra ver essa atrocidade. O médico, infelizmente, não faz milagre. Ele precisa ter o mínimo pra trabalhar. Aquilo é um CTI de fachada. Não tem nem o mínimo de um CTI”, disse a médica.
Nesta última sexta-feira, 22 de maio, a unidade ganhou mais uma ala em meio as denúncias feitas pela falta de medicação. A doutora disse que a medida que as intercorrências aconteciam, ela examinava os pacientes e cada medicação que precisava fazer descobria simplesmente que não tinha.
Priscila contou que teve problemas com todos os pacientes que prestou atendimento. Inclusive, uma das pessoas que atendeu tinha Covid-19 com arritmia cardíaca importante. Ela precisava tentar baixar a frequência, mas não tinha o remédio necessário para o procedimento. A profissional fez questão de frisar que sedativos são fundamentais para quem recebe o tratamento. Contudo, parece que não foi prioridade para o governo.
A médica ressaltou que para acoplar o paciente à ventilação mecânica é importante que estejam bem sedados para o procedimento. Ela ainda revelou que durante o plantão viu duas pessoas morrerem vítimas do novo coronavírus. Para a profissional, a falta de medicação básica pode ter custado a vida dos pacientes.
Priscila relatou que precisou mudar o tubo de um paciente que estava furado e para realizar a manobra é essencial o uso de relaxante muscular, medicamento que não tinha disponível no hospital de campanha. “A sociedade de anestésio, a sociedade de medicina, deixam claríssimo que a gente tem que entubar o paciente com relaxamento muscular (…). Eu demorei um pouco mais porque tava muito difícil a entubação dele e ele acabou parando. Veio a óbito”, contou a profissional.
A anestesista trabalha no SUS – Sistema Único de Saúde há 10 anos. Ela disse que esta acostumada a lidar com situações difíceis e estruturas precárias, mas o cenário que encontrou foi algo ainda pior.