Lembra dela? Por onde anda Priscilla Toscado, a mulher que defecou na foto de Bolsonaro em 2016

A artista Priscilla Toscano ganhou repercussão protestar contra Bolsonaro e outros políticos de forma não convencional.

PUBLICIDADE

O ano era 2016, e a crise política, bem como a polarização de ideologias, era explícita no país. O Brasil passava pelo processo do impeachment, que meses depois resultou com a retirada de Dilma Rousseff do poder.

As manifestações artísticas contrárias a corrupção ou ao processo de impeachment se tornaram mais frequentes por toda parte. Após a votação que deu início ao processo do impeachment, ocasião em que o até então deputado federal Jair Bolsonaro homenageou Ustra, um militar já morto acusado de praticar a tortura durante a ditadura militar, artistas se rebelaram em repudio ao ato.

Em uma performance artística realizada no vão do MASP, capital paulista, um grupo de artistas se reuniram com fotos de políticos e cuspiram nas mesmas, como forma de repudiar o que fizeram. Priscilla Toscano ficou com a foto de Bolsonaro. O grupo foi incentivando o público a fazer o mesmo e aos poucos artistas e visitantes cuspiam na imagem de vários deputados.

Uma mulher, em especial, disse a Priscila que cuspir era pouco perto do que Bolsonaro representava. A artista então teve a ideia de fazer algo a mais após essa fala: como estava de vestido, abaixou o traje íntimo discretamente e urinou e depois defecou sobre a foto do político.

Após o ocorrido, a performance repercutiu na TV, internet e mídia impressa. Toscano começou a ser mais do que criticada: passou a ser ameaçada de morte e hostilizada pelos seguidores mais fanáticos do parlamentar. Para se proteger, ela precisou mudar de casa, repaginar o visual e deixar de dar aulas de teatro em uma oficina cultural, pois os dias e horários das aulas foram divulgados em sites de ativistas políticos, que não paravam de persegui-la.

O tempo passou e quase ninguém mais ouviu falar da artista, mas engana-se quem pensa que as consequências de sua performance a fizeram abandonar a arte. Priscilla foi entrevistada pelo Catraca Livre durante a pandemia de coronavírus e falou sobre o ocorrido, bem como de sua vida atual.

Toscano afirma que além de todas as mudanças que precisou passar para se proteger em 2016, ainda foi intimada a depor sobre o ocorrido, pois era investigada por ato obsceno. Priscila disse sobre o depoimento junto ao seu advogado em uma delegacia: “eu urinei e defequei, sim, na imagem de um deputado federal que elogiou um torturador da ditadura militar. No final, ficou comprovado perante a Lei que não houve ato obsceno na minha ação, mas sim o uso da metáfora artística expressada como manifesto político”.

A performance polêmica lhe rendeu bons frutos, apesar dos riscos. Toscano começou a receber convites para participar de eventos artísticos no exterior, tanto para se apresentar sozinha, quanto com seu grupo, o Desvio Coletivo. Priscila representou o Brasil em eventos cultuais de Portugal, França, Taiwan, Bélgica, Malásia e Coreia do Sul.

Priscila garante que muitos artistas se afastaram dela após o ocorrido, e que muitos deles ela considerava como amigos. A justificativa deles é que não queriam se misturar com política. Ao refletir sobre o ocorrido há quatro anos, Priscila é convicta e objetiva ao dizer:

“Eu nunca quis cagar na imagem de um deputado federal. Eu, baseada na liberdade de expressão e me utilizando da figura representativa, caguei na imagem da apologia à tortura. Caguei na imagem do machismo. Caguei na imagem do racismo. Na imagem do desrespeito aos índios. No preconceito a toda comunidade LGBTQ+ e a repressão das diferentes formas de amar. Nunca tive intenção e nem teria de violar a honra ou a imagem de qualquer pessoa. E hoje eu cagaria novamente e com mais vontade. Porque hoje eu não cagaria na imagem de um presidente. Hoje eu cagaria na imagem da morte. Cagaria na imagem de um capataz que coloca seu povo como refém de uma pandemia e também do seu autoritarismo.”