Expectativa de vida mais baixa, maior número de vítimas de homicídios violentos, distúrbios emocionais e crenças limitantes que afetam o pessoal e o profissional. As consequências da chamada masculinidade tóxica — conjunto cultural de comportamentos e expectativas sobre o que é ser homem — afetam diversos âmbitos da vida de um homem ao impor, socialmente, como ele deve se portar, agir, vestir e principalmente sentir.
A pesquisa O silêncio dos homens, realizada pelo Instituto PdH realizada com 27,7 mil brasileiros revela, por exemplo, que os homens desde pequenos são submetidos a aprender que: não podem demonstrar emoções (60%), precisam ter sucesso na profissão (85%) e devem ser responsáveis pela família (67%).
O empresário e mentor comportamental Diego Gil, aponta que esse ideal de homem é resultado de uma construção social que encaminha esse indivíduo a ser machista e a entender e propagar que a masculinidade é baseada na força, não demonstrar fraqueza ou mesmo não chorar. “Ao negligenciarmos nossas fraquezas, nos tornamos, na verdade, mais vulneráveis, visto que construímos um castelo de ego à nossa volta, baseado em expectativas alheias que nos impede de trabalharmos nossas dualidade. O sentimental é muito atrelado ao feminino, quando na verdade isso é do ser humano”, diz.
É por ideais de comportamentos como esse que o gestor de tráfego Victor Hugo, de 22, sempre foi considerado um ponto fora da curva por não esconder sentimentos ou fraquezas. “Sempre tive a característica de ser chorão, tenho uma facilidade de demonstrar meus sentimentos e não querer reprimi- los. Sofri algumas exclusões de grupos de escola, até na família por conta disso. Foram desde olhares de desprezo, até frases do tipo como: eu criei um homem. Como se fosse errado ser assim”, relata.
Ele relata que a crença de que o homem deve ser o “macho alfa” culmina em dificuldades de se relacionar, conhecer outros pontos de vista e até mesmo condicionar o emocional a um estado emocional adoecido. “Eu procuro algo a mais, saber o porquê não posso ser assim, sendo eu único, e uma essência minha. Trabalho a confiança em quem eu sou, dando a oportunidade de me conhecer não só a mim, mas aos outros, e sem esse medo de julgamento”, diz o gestor. Victor Hugo acredita que as novas gerações de homens devem experimentar uma quebra desse ensinamento hereditário.
Entretanto, segundo o mentor Diego Gil, a lógica é o contrário. É ao trabalhar as sutilezas e os detalhes que homens se tornam cidadãos, companheiros e até mesmo profissionais melhores. “Entrar em harmonia é encontrar uma nova forma de viver e construir uma vida mais simples e prazerosa. Essa imposição social faz com que esse indivíduo nunca conheça a própria felicidade, ele é criado para buscar, por exemplo o sucesso financeiro, visto como um fator de empoderamento, muito inclusive tem vergonha de ter um jantar pago pela companheira por isso significar menos masculinidade, ou seja, essa é uma questão que entra em detalhes da vida daquele indivíduo e vai o adoecendo”, argumenta.
A desconstrução
O primeiro passo para desconstruir essa masculinidade tóxica é se questionar sobre as próprias escolhas. “Quem sou eu? Por que eu sigo por esse caminho? O quanto sou fiel a quem eu sou? Isso porque quando não temos valores, a tendência é pegar aqueles que falam para nós e assim nos tornamos o que esperam de nós. O maior benefício de se questionar todos os dias sobre as nossas ações é justamente a conexão com a intuição, porque você vai ter uma reflexão construtiva de para onde deve ir e principalmente a ser acerca do comportamento que temos todos os dias”, diz.
Os benefícios dessa desconstrução leva o homem, por exemplo, a ter um relacionamento mais saudável. “O homem que possui esse ideal de masculinidade começa a enxergar apenas o exterior, o material. Ao ver uma mulher bonita com um cara que ele não julga tão atraente, ela já pressupõe que o relacionamento é pelo dinheiro. É um cara que não consegue demonstrar emoções, mas ao trabalhar isso se torna um pai, um amigo, um marido e um profissional melhor e mais empático”, diz.
Nas mídias sociais, inclusive, o mentor comportamental Diego Gil, que possui um público majoritariamente masculino, tem como missão fazer com que pessoas vivam como são e não com base em comportamentos esperados. “A coragem de bancar quem você é está muito ligada entre a harmonia entre as energias ‘masculinas’ e ‘femininas’, entre o sentir e o agir. Quando nos conhecemos e temos a ousadia de bancar nossas escolhas, somos libertos e, principalmente, resguardamos nossa saúde física e emocional”, garante.