‘É um tempo terrível para jovens brancos’, afirmou o presidente

É bom mesmo que seja! Privilégios perversos precisam ser derrubados ontem!

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“A idade adulta é a fase do desenvolvimento humano que segue a juventude e precede a velhice. É a fase em que se obtém a plena maturidade física e intelectual do indivíduo e a plenitude dos direitos e deveres sociais e legais. É comumente enquadrado entre as idades de 21 e 60 anos e é entendido como um platô intermediário na vida humana.”

O conceito acima, que parece razoavelmente óbvio, é extraído de um site português. A julgar pelo recente react do Tiago Santineli, talvez seja preciso emendar a definição. Santineli sugere, na sua crítica a vídeos de dois “redpill”, que a idade adulta agora também é uma virtude. No vídeo, que muito recomendo, um dos criticados diz – e parafraseio – que um homem que “vive sozinho, que acorda e faz seu café, mantém sua finanças em dia não é pra qualquer mulher”. Também é, em alguma medida, o tipo de “sucesso” que sugere o infame “calvo do Campari”. O que descrevem como um homem de valor, como bem salienta o humorista, é que o homem ideal é, basicamente, tão somente um adulto funcional – ainda que seja “funcional”, a levar em conta os exemplares, é algo aberto à discussão (o homem adulto também deveria ser “terapeutizado”).

O brilhantismo do “mestre” parece-me indiscutível. Um homem adulto pode tomar quaisquer decisões que queira, inclusive aquelas sobre sua vida sexual, sem precisar ceder às pressões de grupo (típicas na adolescência) e sem precisar justificar suas escolhas para ninguém (desde que tenha ciência de que precisa responder por suas decisões, como quem decide ameaçar uma humorista com “bala”). O ponto que levanto, contudo, tem a ver com uma interrogação que fiz a um amigo querido: há redpills negros? Arrisco dizer que não.

O machismo das ideologias redpill/mgtow/incel é uma nova perspectiva para velhas estruturas de privilégio. Talvez sejam apenas nomes novos, modinha, roupagem internética, para reacionismos pequenos e frágeis. O que invariavelmente se apresenta é um homem branco esperneando rejeições, “cag*ando regras” e reclamando o que entende ser um tipo de “direito de nascença”. “Tudo o que sou é um homem, quero o mundo nas minhas mãos”, reza o verso de uma canção que aprendi há pouco. Pra ele, é apenas natural que as mulheres o queiram e as que não querem são loucas, problemáticas e pior. A mulher dos tempos em que vivemos derrubam os alicerces do mundo em que esse tipinho habita e ele, desesperado, tenta apresentar cacos da velha estrutura como se fossem fatos.

Não há nesses discursos novidade alguma. Jane Fonda referiu-se ao anterior mandatário dos EUA como “predador-em-chefe” – não preciso dizer seu nome para que você saiba de quem falo. O homem foi eleito depois de sugerir que “quando você é famoso, as mulheres deixam você agarrá-las pelas vulvas”. É um velho sobre quem ainda pesam, se não me engano, mais de 16 denúncias de abuso sexual – o que faz o machismo do nosso ex-presidente quase provinciano. Em 2018, pouco antes das nossas Eleições, o presidente estadunidense convertido em terrorista disse que “esses são tempos terríveis para jovens brancos”. Na ocasião, a Dr. Christine Blaise Ford depunha na audiência para confirmação da indicação do “ministro da justiça” Brett Kavanaugh, contra quem apresentava denúncia de abuso sexual. O predador ganhou sua cadeira na Suprema Corte e a doutora Ford passou a mudar de casa diversas vezes por conta das ameaças que passou a receber.

O ‘esperneio’ desses advogados da violência contra a mulher reproduzem exatamente a mesma frase misógina e criminosa do Agente Laranja estadunidense. “Estão destruindo nosso privilégio (branco, cisgênero, heterossexual)”. Não acho que seja possível que haja um redpill de ascendência africana porque nunca houve privilégio que lhes garantisse impunidade em caso de estupro. Contra um homem branco, a culpa sempre é da vítima. O agressor é, com alguma frequência, tratado por um doente, mesmo que a nossa cultura patriarcal apodrecida, farta em compadrios entre juízes e réus, policiais e abusadores, imprensa e acusados, continue reproduzindo inclusive a violência verbal como mera opinião. A agressão psicológica constante a que homens brancos submetemos as mulheres é quase uma espécie de verniz na distopia de baixeza e vilania que determinamos.

Há muitos agressores tentando se reproduzir nos podcasts e nos vídeos na internet, predando não apenas mulheres, mas também jovens imaturos com alguma dificuldade para relacionamentos (o que sempre entendi ser algo natural, já que ninguém nasce sabendo). Contra eles, o nosso repúdio de homens é quase sempre menor do que o que dedicamos aos clipes da Anitta. Aliás, ao contrário, na atual visibilidade que ganharam os influenciadores da extrema direita, há pais como Rodrigo Constantino, que recusar-se-ia a punir o agressor (hipotético) da própria filha.

Falta extintor pra tanto incêndio.

*** Esta é uma coluna de opinião e não reflete o posicionamento da i7 Network.