Dia do orgulho hétero: que todos conheçam a dimensão da minha insegurança como homem

Minha cidade aprovou a celebração do dia do orgulho hétero. Estejam convidados a repudiá-la

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e·ner·gú·me·no: (grego energoúmenos, particípio presente de energéô, estar em ação, sofrer uma ação sobrenatural)

substantivo masculino

1. [Antigo] Pessoa dominada pelo demônio. = POSSESSO
2. [Figurado] Pessoa que, dominada pela paixão, tem atitudes ou comportamentos excessivos.
3. [Figurado] Fanático intolerante.
4. [Pejorativo] Pessoa considerada ignorante ou muito básica. = BOÇAL

Na segunda-feira passada, 20 de março, a Câmara de vereadores da minha cidade aprovou, por unaminidade, na primeira votação, a criação do “dia do orgulho hétero”. Poucas vezes na vida, dei uma notícia com tanta vergonha, com tanta preguiça, com tanto nojo. O projeto de lei poderia ter sido proposto por alguém que se encaixasse em qualquer uma das definições acima. Aparentemente, foi o caso.

Líder de uma igreja evangélica, condenado por ter oferecido cura mística para a AIDS, o vereador em questão parece querer lançar-se para ocupar o lugar do bandido que ocupou o Planalto entre 2018 e 2022. O absurdo de suas pautas, o sensacionalismo de sua chamada “fiscalização” da cidade, parecem seguir à risca a cartilha de outros demagogos como Nikole F., Cleytinho e o próprio Bozo. Sua política não propõe melhorias para a cidade, mas gera pânico moral do qual orgulhar-se-ia a ex-ministra Damares, famosa por suas ficções pedopornográficas.

Minha cidade guarda altos índices de violência contra a mulher. Nos círculos mais pequenos, sempre há uma história sobre algum imbecil que ameaçou a esposa, que levou o dinheiro dela, que a perseguia nas festas apenas por estar “sozinha”. A minha cidade também guarda uma bonita comunidade LGBTQIAP+ que recentemente teve um dos seus – ou dos nossos – praticamente queimado vivo.

Ainda assim, pareceu de bom tom ao vereador, que já destilou ódio também contra o hip-hop, sem fazer ideia do que propunha o artista, comemorar sua frágil masculinidade e tentar disfarçar seu evidente ódio como orgulho de ser um predador sexual em potencial – estatisticamente falando, claro. Sendo mais justo, na verdade, além de ódio, cabe defender, com o projeto de lei apresentado, o privilégio perverso que usa como se nos forçasse todos a uma felação indesejada – e dificultada pelo tamanho diminuto da masculinidade.

Que façam sua parada, para que os possamos cuspir, enojados.

*** Esta é uma coluna de opinião e não reflete o posicionamento da i7 Network.