Um conto tão antigo quanto a eleição passada

Trocam-se os atores, Odorico Paraguassu, de Dias Gomes, é sempre o mesmo.

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Tem sido um tempo complicado desde a publicação do meu último texto. Sobre esse, talvez caiba dizer que fiz uma alegação baseada em artigo que não pude mais encontrar e nos rumores que primeiro ouvi quando cheguei ao lugar onde moro. Não obstante, charlatães e exploradores da fé estão por todos os lados, daí minha precipitação. Valeu-me ser xingado na rua, pela primeira vez, de pilantra – experiência que dispensava.

Sobre o lugar onde moro: trata-se de um pequeno paraíso bucólico, de boa gente, de grande produção cultural, assentado sobre montanhas de minério de ferro. Como o feio nome do meu estado sugere, é uma questão de tempo até que seja explorado e desapareça. Tudo indica, o esforço tem sido grande, inclusive pelo poder público.

Faz uns anos, apareceu aqui um milionário carioca querendo construir, segundo ele mesmo, um terminal de minério. Certo de que não protestaríamos, ele foi surpreendido pelas manifestações contrárias da comunidade. Desde então, a gente dorme com medo desse Leviatã se erguer no seio do nosso lugarejo. O bicho, parece, teve uns contratempos e precisou descansar da indigestão que teve.

De lá pra cá, o terminal de minério já foi terminal de carga e, hoje, atende pela graça de terminal ferroviário, que evoca certo saudosismo e promessas de longas viagens. Passageiras, no entanto, serão as montanhas desse estado com nome de atividade econômica. O tal terminal, claro, deve servir apenas ao escoamento do saque às nossas terras. O que mais se produz por aqui, além de cultura, saberes e artesanato, vai numa kombi feliz e bem cheia. Um ônibus, no máximo. O conhecimento que aqui se faz partilha-se nas conversas e nas ferramentas da internet.

Ao poder público, todavia, interessa destruir nosso arraial. Embora orgulhe-se de vultuosas quantias em caixa, Deus os livre de investir no turismo local. Ao que parece, é a própria exploração minerária que vai financiar o desenvolvimento do lugar que vai destruir fatalmente. Ademais, turismo e cultura não fazem frente aos lucros que a mineração vai produzir durante os 10 ou 15 anos que o lugar vai suportar.

O “terminal ferroviário” vai fazendo festa. Ganha espaço para aliciar defensores e simpatizantes, tenta dividir a comunidade com promessas irreais e melindra-se com a crítica e as oposições. Faz-se de injustiçado, que tanta meia dúzia de empregos vai trazer, que tão somente quer desenvolver o distrito. De bolsos cheios do capital minerador, cooptam os incautos e aliam-se aos gananciosos. É um tema antigo, do qual sempre me recordam a voz brilhante de Corey Glover e a guitarra impecável de Vernon Reid

“Vocês querem correr com as pessoas (…)

Tratar as pessoas como lixo e fazer um monte de dinheiro”.

(Living Colour, Open letter to a landlord)

*As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião da i7 Network