No dia 15 de agosto, assinala-se a celebração do Dia de Nossa Senhora de Assunção, a padroeira da Fortaleza e uma figura de significância na tradição religiosa do Ceará. Simultaneamente, a religião umbanda comemora a Festividade de Iemanjá, a venerada mãe dos diversos Orixás. Contudo, a coincidência entre essas festividades possui uma explicação subjacente. Consoante informações providenciadas pelo antropólogo e investigador vinculado ao Laboratório de Antropologia e Imagem da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jean dos Anjos, as cerimônias tradicionais de Iemanjá no Brasil frequentemente estão entrelaçadas com os eventos religiosos católicos que reverenciam Nossa Senhora.
No território brasileiro, oficialmente, o dia de Iemanjá é comemorado em 2 de fevereiro, coincidindo com a celebração da Festa de Iemanjá na cidade de Salvador. Naquele lugar, a festividade está associada ao Dia de Nossa Senhora das Candeias, também conhecida como Candelária, Luz e/ou Purificação, conforme amplia Jean dos Anjos. Em distintas cidades do Brasil, o dia dedicado à divindade orixá varia em conformidade com a forma mais destacada de Nossa Senhora.
“Em 15 de agosto, Iemanjá é honrada em Fortaleza simultaneamente com Nossa Senhora da Assunção. A tradição de nossa celebração foi introduzida por Mãe Júlia Barbosa Condante, proveniente do Rio de Janeiro, onde Iemanjá é festejada no dia de Nossa Senhora da Glória, a padroeira daquela localidade”, esclarece o antropólogo. “Em 8 de dezembro, nas cidades de Belém, Recife e outras, Iemanjá é honrada no mesmo dia que Nossa Senhora da Conceição”, adiciona.
O Forte de Nossa Senhora de Assunção
A história em torno da padroeira de Fortaleza, Nossa Senhora da Assunção, tem seu início com a chegada da imagem às margens do Rio Ceará em 1622. Após a expulsão dos holandeses em 1654, o forte conhecido como Schoonenborch teve seu nome alterado para “Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção”, conforme relata o pesquisador de antropologia Jean dos Anjos. Em 2003, marcou-se o início da Caminhada com Maria, como parte das celebrações do Jubileu de 150 anos da Diocese do Ceará.
Sincretismo do Catolicismo e religiões afro-brasileiras
O especialista em Geografia do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Christian Dennys, esclarece que as celebrações de Iemanjá e Nossa Senhora da Assunção têm origens que se entrelaçaram nos anos 1950, sem uma definição precisa por parte dos estudiosos que analisaram esses eventos.
No entanto, há uma diferença fundamental: enquanto a festividade em honra à padroeira de Fortaleza é uma tradição paroquiana, a Festa de Iemanjá surge de uma convenção que reúne diversos terreiros e associações de Umbanda, juntamente com outras influências místicas das práticas de Jurema, Catimbó, Terecô, além do Candomblé. O professor destaca que este último possui uma característica mais reconhecida por sua herança africana, sem elementos indígenas.
De acordo com Christian, um pesquisador da religião com doutorado em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (USP), essa reunião de influências resultou em um processo de sincretismo religioso incompleto. “Apesar da Igreja Católica, no virar do século XXI, estabelecer uma relação com as celebrações já tradicionais da Umbanda nas praias de Iracema e Futuro, em especial, ela acabou por não considerar os aspectos festivos dos grupos de origem africana. Em vez disso, delineou uma procissão mariana desvinculada e independente”, explica o professor.