Um dos piores desastres aéreos da aviação comercial dos Estados Unidos aconteceu à bordo de um ATR-72, o mesmo que operava a rota Cascavel (Paraná) a Guarulhos (São Paulo) pela Voepass (antiga Passaredo) no fatídico dia 09 de agosto e que acabou com a vida de 62 pessoas. A tragédia foi registrada em 31 de outubro de 1994, quando o turboélice de fabricação franco-italiana, pertencente à companhia American Eagle – subsidiária da American Airlines para voos domésticos de curta distância – saiu de Indianápolis com destino a Chicago, caindo em um campo perto de Roselawn.
O avião decolou do aeroporto para cumprir o voo 4184, com quatro tripulantes e 64 passageiros a bordo. O Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos indicava que a aeronave passaria por uma área de baixa pressão ao centro de Indiana por volta das 18h, pelo horário local. Na região onde o ATR-72 da American Eagle caiu, os relatos indicavam baixíssimas temperaturas entre -4 e 3 graus Celsius, com grande umidade.
Modelo ATR-72 que caiu nos EUA em 1994 passou por área de risco para a formação de gelo
Por conta do mau tempo, os controladores aéreos de Chicago mantiveram o voo 4184 a uma altitude de 3.000 metros para reordenar o tráfego aéreo. Com isso, o ATR-72 da American Eagle permaneceu por um longo período em uma condição perigosíssima para a formação de gelo, chegando a encarar uma chuva congelante. Em determinado momento, o avião foi autorizado a descer para 2.400 metros.
Quando os pilotos iniciaram a manobra de descida, um som de alerta dos sistemas da aeronave apitou no interior da cabine indicando excesso de velocidade – provocada pelos flaps estendidos. O piloto os retraiu, fazendo com que os eixos e o ângulo de ataque do avião aumentassem, havendo logo na sequência uma excursão de rolagem brusca causada por fatores externos e que desengatou o piloto automático do ATR-72.
Durante as investigações, os peritos constataram, com base nos dados armazenados na caixa-preta, que a aeronave em questão rolou completamente para a direita, ao mesmo tempo em que descia aceleradamente para o chão. Os sistemas de alerta de proximidade com o solo começaram a disparar, momento em que o primeiro oficial do avião disparou um palavrão, seguido de um aumento no elevador de nariz para cima e terminando com um violento estrondo de esmagamento. O resultado foi a colisão da aeronave em um campo de cultivo de soja, parcialmente invertido, com o nariz para baixo.
Os investigadores descobriram ainda que o avião tinha 694 km/h de velocidade no momento da colisão. A situação, combinada à localização dos destroços, permitiu aos peritos descobrir que o estabilizador horizontal e as seções externas das duas asas se soltaram do avião antes do impacto contra o chão.
Formação de gelo foi a principal causa da queda do voo da American Eagle
No laudo final, o NTSB (National Transportation Safety Board), o equivalente ao Cenipa (Centro de Investigações e Prevenções de Acidentes Aeronáuticos) dos Estados Unidos, concluiu que as causas prováveis da catástrofe foram a perda do controle do avião, acrescida de uma reversão repentina e inesperada do momento da dobradiça do aileron, provocada por uma crista de gelo que se formou para além da proteção antigelo da aeronave.
O órgão também reconheceu que a fabricante da aeronave errou por não ter divulgado aos operadores, naquela época, um manual e um treinamento devidamente adequados aos tripulantes sobre como proceder diante de situações de precipitação congelante, além de não ter provido o conhecimento necessário sobre as características de estabilidade e controle, piloto automático e procedimentos operacionais sobre o modelo ATR-72 ao voar em zonas de risco dessa natureza.
A tragédia do voo 4184 da American Eagle resultou no estabelecimento de 18 ADs (Diretrizes de Aeronavegabilidade) em abril de 1996, modificando várias questões relativas a 29 aeronaves turboélice, como o ATR-72, incluindo o estabelecimento de procedimentos e mudanças físicas no sistema de degelo. Ainda assim, desde 1996, por problemas com o gelo, outros três ATRs-72 caíram pelo mundo: o voo 791 da TransAsia Airways, em 21 de dezembro de 2002; o voo 883 da Aero Caribbean, em 4 de novembro de 2010, e o voo 120 da UTair, em 2 de abril de 2012.
Vale lembrar que, no caso do ATR-72-500 da Voepass, ainda não é possível cravar que a formação de gelo tenha sido a causa de sua queda – mesmo que diversos especialistas da área e eventos pretéritos envolvendo o modelo de aeronave apontem para isso. As caixas-pretas foram encaminhadas ao Cenipa em Brasília e os dados extraídos. A tendência é que um relatório ao menos parcial seja confeccionado em cerca de 30 dias.