Avião que caiu havia saído da oficina há poucas semanas, após ficar 3 meses em conserto por dano estrutural

O modelo ATR-72-500 que caiu em Vinhedo, no interior de São Paulo, havia retomado as atividades em 17 de julho.

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O avião turboélice modelo ATR-72-500, pertencente à companhia aérea Voepass (antiga Passaredo), que caiu na cidade de Vinhedo, no interior do estado de São Paulo, no início da tarde da última sexta-feira, dia 09 de agosto, apresentou, meses antes da catástrofe, uma série de problemas que demandaram o seu estacionamento em uma oficina. Dentre as avarias encontradas, estavam uma falha no sistema hidráulico, defeito no ar-condicionado e um dano estrutural ocasionado por um choque da cauda contra o solo durante um pouso no aeroporto de Salvador, na Bahia.

As informações foram emitidas pelo programa Fantástico, exibido pela TV Globo na noite do último domingo, dia 11 de agosto. A reportagem disse ter realizado tais apurações confrontando dados obtidos nos sites dos órgãos oficiais brasileiros da aviação civil com fontes ouvidas externamente. Para as pesquisas, a investigação jornalística levou em consideração o prefixo da aeronave acidentada, PS-VPB, capaz de diferenciá-la dos demais aviões semelhantes em operação.

Relatório oficial mostra dano estrutural no avião que caiu, após colisão da cauda contra o assoalho da pista de pouso

Os problemas com o avião que caiu em Vinhedo começaram no dia 11 de março de 2024. Após voar de Recife (Pernambuco) para Salvador, um relatório oficial foi confeccionado informando sobre um problema no sistema hidráulico e um “contato anormal” contra o assoalho da pista durante o procedimento de pouso. Segundo a investigação do Fantástico, esse “contato anormal” seria um choque da cauda contra o chão, causando “dano estrutural” à aeronave. As informações teriam sido cadastradas no sistema de manutenção da própria empresa.

Em entrevista concedida ao Fantástico, o comandante Ruy Guardiola, que foi um dos primeiros a operarem os modelos ATRs no Brasil, afirmou que um dano à estrutura de um avião sempre é algo a se prestar atenção, haja vista o potencial de causar problemas para a aeronave durante o voo. Contudo, como inexistem informações aprofundadas sobre a dimensão do dano à cauda do PS-VPB, o comandante asseverou ser impossível associar esse evento com a queda.

Após esse registro oficial, o ATR-72-500 envolvido no acidente ficou estacionado em Salvador, onde aconteceu o choque da cauda contra a pista, por 17 dias, até o dia 28 de março. Nessa data, o avião voou para Ribeirão Preto (São Paulo), onde está localizada a oficina particular da Voepass.

Avião teria apresentado novos problemas no primeiro voo após o conserto

O avião permaneceu na oficina da Voepass até o dia 9 de julho, data em que efetuou o seu primeiro voo comercial após os reparos. A viagem foi de Ribeirão Preto para Guarulhos (São Paulo). Segundo o Fantástico, nesse mesmo voo o PS-VPB teria sofrido outro problema: uma despressurização em voo.

A despressurização em voo é um evento em que a pressão do ar dentro da cabine de uma aeronave diminui de forma significativa e rápida. As aeronaves comerciais voam a altitudes elevadas, onde a pressão atmosférica externa é muito baixa para que os seres humanos respirem confortavelmente. Por isso, a cabine é pressurizada, ou seja, a pressão interna é mantida em um nível semelhante ao que se encontraria em uma altitude menor (geralmente entre 1.800 e 2.400 metros).

Por essa razão, o avião retornou para a oficina da Voepass em Ribeirão Preto, dessa vez sem passageiros, onde permaneceu parado por mais quatro dias, passando por novos reparos. Em 13 de julho, a aeronave retomou novamente as suas operações e continuou voando até o início da tarde do dia 09 de agosto, quando caiu em parafuso chato sobre um condomínio residencial no bairro Capela, em Vinhedo.

“[O dano estrutural causado pelo choque da cauda contra a pista de pouso] pode ser um fator contribuinte [para a queda]? Pode. Porque não é possível uma aeronave que tem um dano estrutural ser liberada para voo. Isso a investigação agora vai verificar. Tem que verificar”, acrescentou o comandante Ruy Guardiola em sua participação no Fantástico.