Pelo menos 30% dos trabalhadores sofrem com burnout; assédio sexual é uma das causas mais graves

Advogada Priscila Arraes fala sobre as principais consequências do assédio sexual.

PUBLICIDADE

No Brasil, cerca de 30% dos trabalhadores sofrem com a síndrome de Burnout. É o que dizem dados da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt). Em um parâmetro mundial, é o segundo país com mais diagnósticos, perdendo apenas para o Japão. 


De acordo o Ministério da Saúde, Síndrome de Burnout é um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico, em detrimento de situações de extrema pressão no ambiente de trabalho. 

O burnout é considerado uma doença ocupacional desde 1999, mas, só foi ganhar mais destaque e discussões a seu respeito nos dias atuais, principalmente após a pandemia. 

Dentre os principais fatores que acarretam a síndrome de Burnout, é possível citar o assédio – tanto moral,  quanto sexual – a impossibilidade de desconexão com o trabalho, bem como a inflexibilidade e falta de autonomia.

Assédio sexual no ambiente de trabalho

Em 2023, o Ministério Público do Trabalho recebeu, de janeiro a julho, 8.458 denúncias. Este número é quase o mesmo dos registros de todo o ano de 2022, que foram 8.508 denúncias. 


A maior parte delas, se refere a assédio moral, no entanto, a quantidade de denúncias referentes a assédio sexual é preocupante: 831 – quase o dobro do mesmo período do ano anterior, que foram de 393.

Além do burnout: assédio pode trazer graves consequências para a vida do trabalhador

A advogada Priscila Arraes, do Mato Grosso, é especialista na defesa dos direitos dos trabalhadores com doenças ocupacionais. Um dos seus casos mais emblemáticos foi de uma jovem que desenvolveu burnout e depressão devido a casos de assédio sexual e moral no ambiente de trabalho.

A jovem em questão trabalhava em uma multinacional, onde a maioria dos funcionários era homens. Então, ela era a única mulher do grupo, o que a deixava em uma posição vulnerável, pois, além do assédio sexual, existia uma discriminação de gênero. 

“O chefe fazia ela ir almoçar com ele, fazia ela ficar até mais tarde para ficar sozinho com ela, coisas nesse sentido. Ele tinha o comando e era um assediador. Então, ela foi virando vítima”, disse a advogada. 

Isso gerou sérios outros problemas para ela, porque, além de desenvolver um quadro de depressão crônica e Burnout, passou a ter medo das pessoas e medo de sair de casa. Posteriormente, processou criminalmente o empregador e a empresa e precisou ser aposentada por Invalidez antes dos 30 anos, pois não se via mais em condições de trabalhar devido às consequências. 

“Não tem nada pior para um trabalhador do que um ambiente de assédio, seja ele moral ou sexual”, lamentou a advogada.

Priscila ainda fala sobre como a tecnologia é uma grande aliada no trabalho de acompanhamento dessas pessoas. Ela utiliza em seu escritório o software jurídico ADVBOX. 

“ADVBOX é um sistema importante para a gente, para o acompanhamento dos processos e para acompanhamento das próprias pessoas, nos dando autonomia e flexibilidade”, defendeu a advogada.

O uso da tecnologia demonstra uma adaptabilidade da advocacia às demandas contemporâneas frente à busca por eficiência e autonomia no processo de proteção dos direitos dos trabalhadores. Assim, é imperativo que esforços contínuos sejam direcionados para erradicar o assédio no ambiente de trabalho, garantindo um ambiente seguro e saudável para todos os profissionais.

A importância dos trabalhadores se priorizarem

A análise dos dados apresentados revela não apenas números, mas histórias de indivíduos que tiveram suas vidas drasticamente afetadas pelo assédio e pela exaustão no trabalho. O relato do caso da jovem vítima de assédio sexual e moral, representado pela advogada Priscila Arraes, exemplifica as graves consequências dessas situações, indo além do esgotamento mental e físico até a necessidade de aposentadoria precoce. 

Essas narrativas reforçam a importância de uma abordagem multidisciplinar na prevenção e tratamento desses problemas, combinando medidas legais, apoio psicológico e mudanças estruturais nas organizações. 

Diante desse cenário, é importante reconhecer, também, a importância de, não apenas políticas empresariais que visam o desenvolvimento de qualidade de vida, como também a ação dos próprios trabalhadores. 

A advogada Priscila Arraes defende que é muito importante que as pessoas coloquem a si mesmas em primeiro lugar, e não deixem que o trabalho tome conta das suas vidas. “A sua parte é colocar limite no trabalho. O trabalho é uma coisa na sua vida e você tem que ter você tem que ter atenção com a sua família, com você e tem que cuidar da sua saúde. Então, se eu posso dar algum conselho: primeiro, o trabalhador tem que pensar em si próprio. Porque não há trabalho, não há renda, não há crescimento que se sustente, não há emprego que se sustente se não tiver qualidade de vida e qualidade de vida”, finalizou a advogada.