A investigação do caso de envenenamento que chocou Torres, no litoral do Rio Grande do Sul, ganhou um novo capítulo com a suspeita de que Deise Moura dos Anjos possa estar envolvida na morte de seu sogro, Paulo Luiz dos Anjos, ocorrida em setembro após uma infecção alimentar. A Polícia Civil solicitou a exumação do corpo para investigar possível conexão com as mortes recentes.
O caso inicial, que resultou em três óbitos na véspera do Natal, teve como instrumento um bolo preparado com farinha contaminada com arsênio. As vítimas fatais foram as irmãs Neuza Denize Silva dos Anjos, de 65 anos, Maida Berenice Flores da Silva, de 59 anos, e Tatiana Denize Silva dos Anjos, de 47 anos, filha de Neuza.
Veneno que matou família estaria em farinha da qual bolo foi feito
A suspeita teria entregue a farinha envenenada para sua sogra, Zeli dos Santos, de 61 anos, que permanece internada em estado grave no CTI. Além dela, um homem e um menino de 10 anos também foram intoxicados após consumirem o bolo, mas já receberam alta hospitalar. O único que não apresentou sintomas foi o marido de Maida, que não chegou a provar do doce.
As análises laboratoriais realizadas pelo Hospital Nossa Senhora dos Navegantes confirmaram a presença de níveis alarmantes de arsênio no sangue das vítimas fatais. A diretora do Instituto Geral de Perícias, Marguet Mittman, revelou dados estarrecedores sobre a concentração da substância tóxica.
As investigações apontaram que todas as pessoas que consumiram o bolo notaram imediatamente um sabor estranho. A delegada Sabrina Deffente, responsável pelo caso na 23ª Delegacia de Polícia Regional, manifestou preocupação com as semelhanças entre as mortes recentes e o falecimento do sogro da suspeita.
O delegado Marcus Vinícius Veloso mantém sigilo sobre a motivação do crime para preservar as investigações em andamento, mencionando apenas que existem “divergências muito pequenas” por trás do ato criminoso. A Justiça decretou prisão temporária de 30 dias para Deise após audiência de custódia.
O que diz a perícia?
A perícia técnica revelou dados alarmantes sobre a concentração de arsênio encontrada nas vítimas. “De acordo com a literatura, uma concentração máxima na urina seria de 35 mil microgramas por litro. Em uma das vítimas, a menor concentração encontrada foi 80 vezes maior que essa. E na vítima com a maior concentração, esse número chegou a 350 vezes mais que o permitido”, explicou Marguet.
O momento crucial do incidente foi relatado pelo delegado: “Tão logo o menino de 10 anos comeu e, como os outros, reclamou do sabor, Zeli colocou a mão em cima do bolo e falou para ninguém comer. E as pessoas começaram a passar mal naquele momento”. Esta ação, embora tardia, pode ter evitado um número ainda maior de vítimas.
Deise responderá por acusações graves que incluem triplo homicídio duplamente qualificado e tripla tentativa de homicídio duplamente qualificado. A possível conexão com a morte do sogro poderá agravar ainda mais sua situação judicial, conforme indicou a delegada: “As coincidências nos levam a crer que, provavelmente, tenha ocorrido também um envenenamento e isso vai se apurar”.