Jair Bolsonaro está internado. Mais uma vez. Estado grave. UTI. Jejum absoluto. Alimentação por via intravenosa. Cirurgia de 12 horas. Recuperação lenta e difícil. Mas tudo do bom e do melhor: hospital de ponta, médicos renomados, vigilância contínua, fisioterapia especializada. E, principalmente, silêncio — o mesmo silêncio que ele nunca ofereceu a um país em luto.
Mas não nos enganemos: não é o corpo de Bolsonaro que está em crise. É o retrato moral de um homem que teve o Brasil nas mãos e escolheu cuspir na dor do seu povo.
Hoje, ele pede oração. Ontem, chamava o sofrimento de “mimimi”. Hoje, fala em milagre. Ontem, debochava de quem chorava por vidas perdidas. Hoje, se diz grato à vida. Ontem, zombava da morte em rede nacional.
O preço da arrogância: quando a empatia faz falta
Não há crueldade em relembrar. Há responsabilidade. Memória é ato político — e o Brasil não esquece. Porque Bolsonaro não foi apenas omisso: foi ativo. Foi protagonista da negligência. Foi porta-voz da arrogância. Transformou a empatia em piada, a ciência em inimiga e o sofrimento de milhares de famílias em escada para o seu populismo depravado.
Não pediu desculpas. Não recuou. Não reconheceu. Preferiu o escárnio.
“Eu não sou coveiro.”
“E daí? Quer que eu faça o quê?”
“Chega de frescura e de mimimi.”
Essas frases não foram erros. Foram escolhas. Foram declarações frias, calculadas, lançadas contra o povo brasileiro no pior momento da nossa história recente. E agora, quando a dor bate à sua porta, ele espera compaixão?
Receberá. Porque o povo brasileiro é maior que ele. Mas não sem lembrança.
Porque hoje, quando Bolsonaro sente o peso da fragilidade humana, talvez entenda — ainda que tarde — o que é depender de um leito, de um tubo, de um milagre.
Só que ele nunca esteve sozinho. Nunca foi jogado em corredor de hospital. Nunca ficou sem oxigênio. Nunca chorou um filho morto por covid sem velório.
Ele está vivo. Está sendo tratado. Está cercado de tudo o que a medicina pode oferecer.
E talvez, justamente por isso, pela segurança que sempre teve, seja ainda mais covarde o que ele fez com quem nunca teve nada.
O Messias agora implora por milagre
O homem que dizia que não fazia milagre agora implora por um. Mas o verdadeiro milagre foi o Brasil sobreviver ao governo de um homem que, diante da dor, escolheu rir.
A vida agora lhe cobra. Com bisturi. Com silêncio. Com a verdade nua.
Chega de frescura e de mimimi, Jair.
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