Faleceu nesta terça-feira (13), aos 98 anos, o médium Divaldo Franco. Reconhecido por sua atuação filantrópica por mais de 70 anos, Franco foi um dos principais divulgadores da doutrina espírita no Brasil e, por essa razão, muitos o consideravam sucessor de Chico Xavier (1910-2002).
Ele foi o idealizador e fundador da Mansão do Caminho, uma instituição dedicada ao acolhimento de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social no estado da Bahia. A causa exata do falecimento não foi tornada pública. Nos últimos anos, Divaldo Franco enfrentava questões de saúde, incluindo um diagnóstico de câncer na bexiga em novembro de 2024.
Divaldo Pereira Franco nasceu em maio de 1927, na cidade de Feira de Santana, localizada a 109 km de Salvador. Caçula entre doze irmãos, ele obteve o diploma de professor primário em 1943, após cursar a Escola Normal, mas não exerceu a profissão.
Em 1945, mudou-se para a capital baiana e ingressou no serviço público no Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado, onde permaneceu até sua aposentadoria em 1980. Criado em um ambiente católico, Divaldo relatou em diversos depoimentos ter tido percepções de espíritos desde a infância. Na juventude, ele reconheceu sua mediunidade e começou a desenvolver a psicografia, habilidade descrita na doutrina espírita como a capacidade de receber e transcrever mensagens de entidades espirituais.
Fundação e expansão da obra social
A trajetória de Divaldo Franco como líder religioso teve início em 1947, quando ele, em parceria com Nilson de Souza Pereira (1924-2013), fundou o Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador. Este centro serviu de base para a criação da Mansão do Caminho, estabelecida em 1952 com o propósito inicial de atender crianças e adolescentes provenientes de famílias de baixa renda. Com o passar do tempo, a instituição expandiu suas atividades e se consolidou como uma das maiores entidades filantrópicas do país.
Divulgação da doutrina e produção literária
Franco foi um dos grandes responsáveis pela disseminação da doutrina espírita no Brasil. Ele realizou mais de 12 mil conferências em aproximadamente 2.000 cidades brasileiras e visitou mais de 60 países. É autor de mais de 200 livros, que, segundo ele, foram psicografados sob a orientação espiritual de Joanna de Ângelis, sua guia espiritual. Seus escritos alcançaram grande sucesso editorial, com mais de sete milhões de exemplares vendidos e traduções para diversos idiomas. Divaldo Franco descrevia Joanna de Ângelis como um espírito antigo, que teria reencarnado em figuras históricas como Santa Clara de Assis, Joana de Cusa e a abadessa Joanna Angélica. O primeiro livro, “Messe de Amor”, foi lançado em 1964 e reunia mensagens de Joanna de Ângelis. Também se destacam na obra do médium a chamada Série Psicológica, composta por dezesseis livros que estabelecem pontes entre a Doutrina Espírita e correntes da psicologia.
Trabalho social e posicionamentos políticos
No campo social, Divaldo Franco se notabilizou pelo trabalho na Mansão do Caminho, inicialmente concebida como um orfanato. Ao longo da vida, adotou como filhos cerca de 600 crianças que passaram pela entidade. A Mansão do Caminho ocupa uma área de 78 mil metros quadrados no bairro do Pau da Lima, periferia de Salvador e atende diariamente cerca de 2.000 crianças e adolescentes de famílias de baixa renda. A estrutura inclui uma creche, uma escola de ensino fundamental, uma de ensino médio, além de uma clínica de partos humanizados. A entidade também atua na assistência social, oferecendo auxílio a mais de 500 pessoas em estado de vulnerabilidade social, com patologias graves, idosos e gestantes. Também gere o Centro de Saúde Dr. José Carneiro de Campos, unidade realiza exames e consultas em diversas especialidades médicas.
Nos últimos anos, passou a manifestar em palestras e vídeos suas posições políticas conservadoras. Foi entusiasta da operação Lava Jato e apoiou Jair Bolsonaro (PL) à Presidência da República. Em 2023, o médium voltou a gerar polêmica no meio espírita ao defender os manifestantes que participaram dos protestos de caráter golpista de 8 de janeiro e depredaram as sedes dos três Poderes da República. “Estamos vendo aí leis absurdas, prisões estúpidas sem julgamento. Como é que pegam pessoas na rua, botam no ônibus e levam para a cadeia?”, questionou Divaldo em vídeo publicado na época. As declarações geraram reações de setores progressistas do espiritismo.
O líder religioso teve sua história contada no filme “Divaldo – O Mensageiro da Paz”, lançado em 2019 com direção de Clovis Mello e elenco com Guilherme Lobo, Regiane Alves, Bruno Garcia e Marcos Veras. Em entrevista à Folha na época do lançamento do filme, Divaldo disse que pediu para retirar do filme os diálogos com menções favoráveis ao espiritismo, as quais considerou desnecessárias: “Para mim é muito mais importante ser um cidadão ateu, do que um cristão sem dignidade”, afirmou.