A perda de um bebê durante a gestação, especialmente em estágios avançados, é um evento doloroso e complexo. Recentemente, a apresentadora Tati Machado vivenciou essa situação ao perder seu primeiro filho aos oito meses de gravidez, após notar a ausência de movimentos fetais. Casos como este levantam questões sobre as possíveis causas da morte fetal e os fatores que podem contribuir para essa tragédia.
De acordo com o médico Alexandre, ouvido pelo Notícias da TV, a morte fetal tardia é definida como a perda gestacional que ocorre a partir das 28 semanas de gestação e com o feto pesando mais de um quilo. O especialista explica que, nesse período, o feto já possui “viabilidade”, ou seja, uma boa probabilidade de sobreviver caso nasça. É a partir deste momento que se considera o óbito fetal tardio.
Fatores que podem levar à perda fetal
O obstetra detalha que existem diversos fatores que podem resultar na morte do bebê antes do nascimento, divididos em três categorias principais: questões maternas, fatores fetais e problemas relacionados à placenta. Entre as causas maternas, a pré-eclâmpsia, caracterizada pela hipertensão no último trimestre da gestação, é frequentemente associada à insuficiência placentária. Isso ocorre quando a placenta perde a capacidade de realizar a troca adequada de oxigênio e nutrientes entre a mãe e o feto.
Outra possibilidade é a vasa prévia, uma má-formação na inserção do cordão umbilical na placenta, onde o cordão se ramifica antes de atingir a placenta. Essa condição pode gerar dobras e torções que comprometem a circulação sanguínea do feto e da placenta. A diabetes descompensada na mãe também representa um risco, criando um ambiente com alta concentração de açúcar no sangue materno. Isso leva o feto a produzir grande quantidade de insulina para compensar. Se houver uma queda significativa nas taxas de açúcar no sangue materno por qualquer motivo, a criança pode desenvolver hipoglicemia grave, com risco de óbito.
Riscos relacionados ao feto e à mãe
Do lado fetal, anomalias e malformações congênitas ou cromossômicas que são incompatíveis com a vida podem levar à morte em fases mais tardias da gestação. Embora rara, a incompatibilidade sanguínea, quando a mãe é RH negativo e o feto RH positivo, também pode ser um fator de risco. Se a mãe estiver sensibilizada, ela produz anticorpos que atravessam a placenta e destroem o sangue fetal, causando anemia e edema generalizado no feto, o que pode resultar em morte fetal.
O ginecologista também menciona que mulheres com idade superior a 35 anos são consideradas pacientes de maior risco para parto prematuro, perda gestacional e complicações como diabetes e pré-eclâmpsia. Pacientes muito jovens, com menos de 19 anos, também enfrentam alguns riscos. Histórico de perdas gestacionais anteriores, doenças pré-existentes como pressão alta, diabetes, alterações de coagulação ou trombose no passado demandam acompanhamento mais rigoroso. Acesso limitado à saúde também é um fator determinante, pois dificulta a identificação e o tratamento de fatores de risco em tempo hábil para evitar a perda fetal.
Os cuidados após a perda gestacional
Quando ocorre um óbito fetal, a atenção médica se volta integralmente para a mãe, que precisará passar pelo processo de expulsão do feto e da placenta. Este é um momento de grande sofrimento, pois a mulher enfrenta o processo de parto sabendo que o bebê não está mais vivo. A via de parto, seja normal ou cesariana, é definida com base em diversos fatores, incluindo a condição clínica da paciente, os riscos envolvidos e a relação de confiança com o médico. Sempre que possível, o parto normal é preferida por apresentar menos riscos para a mãe e favorecer uma recuperação mais rápida, especialmente para futuras gestações. O parto normal é o processo fisiológico natural, enquanto a cesariana, por ser uma cirurgia, deixa uma cicatriz uterina e exige maior tempo de recuperação.
Além da investigação das causas do óbito, o apoio psicológico ao casal é fundamental. A perda afeta tanto a mãe quanto o pai, e ambos necessitam de acolhimento e acompanhamento emocional durante este período delicado. A psiquiatra Vanessa Greghi destaca que o luto é inevitável e deve ser vivido com o auxílio de profissionais. Ela ressalta que, embora o processo seja doloroso, buscar ajuda impede que o luto se transforme em um transtorno psiquiátrico com sofrimento prolongado. Mulheres que vivenciam a perda de um filho podem desenvolver um estado de ansiedade constante, com a sensação de que algo ruim pode acontecer a qualquer momento, sendo necessário tratamento para essa condição.