Um idoso de 87 anos teve cerca de R$ 200 mil desviados pela própria neta, de 35 anos, em Ponta Grossa, nos Campos Gerais do Paraná. O caso chamou atenção pela maneira como os crimes foram cometidos: segundo a polícia, a suspeita criou uma personagem fictícia, chamada Jéssica, para enganar o avô.
Ele havia confiado a ela o controle das finanças por acreditar que fosse uma pessoa boa. De acordo com o delegado Gabriel Munhoz, os desvios começaram em 2021, quando a neta passou a gerenciar o dinheiro do avô. Parte significativa dos valores desviados vinha da aposentadoria e de um precatório no valor de R$ 123,8 mil, dos quais apenas R$ 14 mil foram repassados ao idoso. A maior parte dos valores era transferida para a conta pessoal da investigada.
IPVA atrasado acendeu alerta
O golpe foi descoberto por um dos filhos da vítima, que notou que o IPVA do veículo do pai estava atrasado, mesmo após ele ter entregado o dinheiro à neta para o pagamento. Ao consultar o gerente do banco, ele constatou que o precatório havia sido sacado e o dinheiro transferido. As investigações revelaram que a neta abria contas em nome do avô e fazia empréstimos sem autorização.
Durante o inquérito, a polícia descobriu que a suspeita simulava chamadas telefônicas usando uma linha registrada em nome de uma pessoa próxima a ela, fingindo ser uma funcionária da Caixa Econômica. Essa falsa identidade servia para convencer o idoso de que havia bloqueios e movimentações autorizadas.
A mulher, que não trabalhava, sustentava-se com o dinheiro desviado e quando questionada pelo avô sobre a falta do décimo terceiro, por exemplo, culpava o presidente Lula. Segundo ela, o pagamento tinha sido cortado pelo presidente.
Desabafo do avô
Em entrevista para a Globo, o idoso falou sobre o crime de que foi vítima. “Dá uma dor no coração, quase de morrer”, disse ele sobre o caso. “Eu trabalhei desde piá, toda vida, nunca peguei 10 centavos de ninguém. Por que que agora vem uma sem vergonha dessa me roubar?”, desabafou.
A neta foi indiciada por estelionato com agravante por ter como vítima um idoso, e responderá em liberdade. O crime é considerado contínuo e pode levar a até 10 anos de prisão. Em nota, a defesa da investigada alegou que os valores são inferiores aos informados pela polícia e afirmou que ela pretende ressarcir o avô, negando qualquer fraude ou má-fé.