É por esse motivo que muita gente está tampando a boca com fita para dormir; todo cuidado é pouco

A prática de tampar a boca com fita para dormir, popularizada nas redes sociais, não possui respaldo científico e pode gerar riscos à saúde.

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A prática de vedar a boca durante o sono, impulsionada por influenciadores e celebridades nas redes sociais, tem ganhado notoriedade, mas carece de comprovação científica e apresenta potenciais riscos à saúde. Apesar de relatos de usuários sobre melhorias no sono, redução do ronco e até alterações estéticas, especialistas alertam para a ausência de evidências que sustentem esses benefícios e para os perigos associados, especialmente para indivíduos com condições respiratórias preexistentes.

A popularidade da técnica é visível em plataformas como o TikTok, onde influenciadores compartilham suas experiências. Uma influenciadora chegou a descrever a fita na boca como a “dica de beleza da vida“, alegando transformações positivas no formato do rosto e do maxilar.

No entanto, o sucesso na internet não se traduz em respaldo científico. Brian Rotenberg, professor de otorrinolaringologia e cirurgia de cabeça e pescoço da Faculdade de Medicina Schulich da Western University, em London, Ontário, enfatiza que “os supostos benefícios — como melhora da apneia, redução do ronco, melhora na aparência do nariz e do maxilar — não se confirmam na prática”.

Riscos e condições respiratórias

Os riscos associados à vedação bucal são particularmente preocupantes para pessoas com apneia do sono, uma condição grave em que a respiração é interrompida repetidamente durante o sono. Estima-se que cerca de 30 milhões de norte-americanos sofram de apneia do sono, com 23,5 milhões ainda sem diagnóstico, segundo a Academia Americana de Medicina do Sono. Para esses indivíduos, tampar a boca pode restringir severamente o fluxo de ar, privando o cérebro e o corpo de oxigênio. Uma análise conduzida por Rotenberg e sua equipe concluiu que vedar a boca ou prender o queixo para mantê-lo fechado “pode representar um risco grave de asfixia na presença de obstrução nasal ou refluxo”. Obstruções nasais, causadas por desvio de septo, pólipos nasais ou tumores, também dificultam a respiração pelo nariz, tornando a prática ainda mais arriscada sem a consulta prévia a um especialista. Rotenberg observa que “muita gente prefere recorrer ao Instagram, TikTok ou outras fontes, em vez de procurar um médico ou enfermeiro para obter um diagnóstico“.

A importância da respiração nasal adequada

O objetivo por trás da vedação bucal é estimular a respiração nasal, que é de fato mais saudável, conforme especialistas. A respiração pelo nariz permite que os cílios filtrem poeira, alérgenos, germes e outras impurezas do ar. Além disso, o ar inalado pelo nariz é umidificado, enquanto o ar seco respirado pela boca pode irritar os pulmões, de acordo com Raj Dasgupta, professor associado de medicina clínica, pneumologia, cuidados intensivos e medicina do sono no Huntington Health, em Pasadena, Califórnia. Dasgupta acrescenta que “a respiração nasal pode reduzir a pressão arterial ao aumentar o óxido nítrico, um composto que ajuda a manter a pressão sob controle”. A respiração nasal também é considerada mais relaxante, sendo recomendada em práticas como yoga e meditação para auxiliar na indução do sono.

No entanto, Ann Kearney, fonoaudióloga da Faculdade de Medicina da Universidade de Stanford, ressalta que a simples vedação da boca não garante os benefícios da respiração nasal se a língua não estiver posicionada corretamente. “É frustrante ver pessoas achando que basta tampar a boca e pronto — não é esse o ponto”, afirma Kearney.

Para uma respiração nasal eficaz, a língua deve estar posicionada para cima e para frente, com a ponta logo atrás dos dentes superiores da frente e relaxada ao longo do céu da boca. Se a língua não for movida para essa posição, “a base da língua fica recuada na via aérea, o que gera uma obstrução maior”, explica Kearney. Ela adverte contra o uso de fitas inadequadas, como silver tape, e enfatiza que, caso a prática seja considerada após avaliação médica, um pequeno pedaço de fita médica fina de aproximadamente 5 cm é suficiente.