Um ano após o acidente aéreo da Voepass que tirou a vida de 62 pessoas, um ex-funcionário trouxe novos detalhes à investigação. O depoimento de um ex-auxiliar de manutenção revela que o piloto do voo anterior ao desastre relatou uma falha no sistema de degelo da aeronave, de acordo com uma reportagem do portal G1. Segundo ele, o problema foi comunicado verbalmente, mas não foi registrado formalmente no diário de bordo técnico.
A ausência do registro formal no diário de bordo técnico, conhecido como technical log book, permitiu que o avião continuasse a operar. O relato indica que o alerta de falha no sistema de degelo, que desligava sozinho, foi ignorado pela liderança.
A decisão de autorizar os voos seguintes, mesmo com o problema conhecido, é um dos pontos centrais da nova apuração. O ex-funcionário aponta uma série de falhas operacionais e pressão para manter a aeronave ativa. Ele alega que a empresa não queria aviões parados devido a prejuízos financeiros, o que sobrecarregou a equipe de manutenção e adiou revisões.
Funcionários estariam trabalhando sob pressão
Segundo as declarações do ex-funcionário, essa pressão teria contribuído para a decisão de ignorar a falha reportada e manter o avião em operação. O avião, um ATR 72-500, partiu de Ribeirão Preto, retornou a Guarulhos e seguiu para Cascavel. O acidente aconteceu na viagem de volta de Cascavel, em Vinhedo, e a caixa-preta registrou que o botão de degelo foi acionado três vezes sem sucesso.
Especialistas explicam que o sistema de degelo é crucial para a segurança do voo, pois a formação de gelo compromete a aerodinâmica da aeronave. A perícia do Cenipa capturou, em gravações de cabine, a menção dos pilotos sobre bastante gelo antes do impacto.
Polícia Federal suspeita de crime por negligência
A Polícia Federal investiga a possibilidade de crimes por omissão ou negligência. O delegado-chefe em Campinas afirmou que, embora os fatores mecânicos da queda sejam conhecidos, a investigação agora busca identificar os responsáveis pela decisão de voar com um risco já relatado.
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) informou que tem acompanhado o caso desde 2024, por meio de auditorias. A apuração de irregularidades continua em andamento e, se confirmadas, poderá levar a sanções contra os responsáveis.
