Uma menina de seis anos foi resgatada de uma situação de cárcere privado em Sorocaba, interior de São Paulo, na última quinta-feira (4). A criança, que não sabia falar, nunca frequentou a escola, não havia recebido vacinas e não se alimentava de comida sólida, foi encontrada em um quarto com condições precárias de higiene. Os pais, uma mulher de 45 anos e um homem de 54, foram presos em flagrante e responderão pelo crime.
A Polícia Civil chegou ao local após receber uma denúncia anônima. O resgate contou com o apoio do Conselho Tutelar e da Guarda Municipal. Segundo a conselheira Lígia Guerra, em entrevista à TV TEM, a criança estava “muito apática” e ficou “deslumbrada” ao sair da casa. “O cabelo tinha um nó único, como se nunca tivesse sido lavado. Ela estava sem se alimentar e ficou deslumbrada com tudo, como se nunca tivesse saído da casa”, relatou.
Condições de saúde da criança preocupam autoridades
A menina foi acolhida em um abrigo institucional e encaminhada ao Conjunto Hospitalar de Sorocaba, onde segue internada para exames e cuidados médicos. De acordo com a delegada Renata Zanin, da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Sorocaba, os pais não souberam justificar o motivo de manterem a filha nessas condições. “Eles parecem não entender a real gravidade do que aconteceu. Não esboçaram nenhuma reação, nenhum sentimento, nada. Para eles, estava tudo normal”, afirmou. Durante o interrogatório, os pais limitaram-se a responder “não sei” quando questionados sobre a ausência de escola, cuidados médicos ou convívio social para a criança. Em alguns momentos, afirmaram que pretendiam levá-la para fora de casa, mas não explicaram por que não o fizeram.
Três celulares foram apreendidos no imóvel e passarão por perícia. A delegada informou que vai pedir que os pais sejam submetidos a avaliação psiquiátrica. O processo corre em segredo de Justiça. Após audiência de custódia na sexta-feira (5), o casal permanece preso e responderá por cárcere privado.
Investigação busca entender motivações para o crime
A delegada Renata Zanin também informou que a família dos pais da criança é da cidade de São Paulo, onde a menina chegou a passar um período quando era bebê e teve uma reação alérgica à proteína do leite. Após esse episódio, os pais proibiram que tios e avós tivessem contato com a menina.
Vizinhos relataram que a mãe tinha o cabelo raspado e era obrigada pelo companheiro a se vestir com roupas masculinas, embora ela negue ter sofrido violência doméstica. A polícia investiga as motivações do casal para manter a criança em cárcere privado e as circunstâncias que levaram à falta de cuidados básicos com a menina. A criança segue recebendo atendimento médico e psicológico no abrigo onde está acolhida.
