Noemi Ferrari foi vítima de ofensas racistas em seu primeiro dia de trabalho em uma farmácia em São Caetano do Sul, em 2018. O episódio voltou a circular recentemente após a própria vítima divulgar o vídeo nas redes sociais. Na gravação, uma colega a apresenta à equipe com frases preconceituosas, rindo enquanto associa sua chegada ao “escurecimento” da loja e dizendo que a “cota acabou”.
As imagens foram usadas como prova no processo que condenou a Raia Drogasil a pagar indenização de R$ 56 mil, recebida em março deste ano.
Justiça reconhece racismo e omissão da empresa
A Justiça do Trabalho considerou que as falas não foram “brincadeiras”, mas sim racismo recreativo, enquadrado no contexto de racismo estrutural. Também ficou comprovado que Noemi trabalhava mais horas do que constava no ponto eletrônico. Em segunda instância, a decisão foi mantida, com juízes ressaltando o constrangimento e a humilhação sofridos. A alegação da defesa de que não houve intenção discriminatória foi afastada em todas as etapas do processo.
Em resposta, a Raia Drogasil lamentou o episódio e reafirmou compromisso com diversidade e inclusão. A empresa destacou programas internos e informou que, em 2024, metade dos cargos de liderança já era ocupada por pessoas negras. Também declarou investir continuamente em iniciativas voltadas à equidade racial e ao fortalecimento de ambientes de trabalho respeitosos.
Repercussão e trajetória de Noemi
Noemi contou que, na época, não reagiu por necessidade do emprego e permaneceu na função até 2022, quando foi demitida após atrito com um supervisor. A busca por reparação judicial veio depois, reforçada por advogados que apontaram a importância do caso como precedente em disputas sobre discriminação no trabalho.
Atualmente, ela atua como gestora na área da saúde e afirma ter encontrado apoio em familiares e profissionais. O valor da indenização foi usado de forma planejada, incluindo a compra de um apartamento. Além de garantir reparação, o caso levantou debates sobre responsabilidade das empresas diante de atos discriminatórios e reforçou a urgência de medidas efetivas de combate ao racismo no ambiente laboral.
