Vapores tóxicos em aviões comerciais deixam vítimas com lesões cerebrais, aponta relatório

Investigação do WSJ e registros da FAA apontam vazamentos de óleo e falha no sistema ‘bleed air’.

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Uma investigação do Wall Street Journal, baseada em relatórios da FAA e da NASA, apontou que vapores tóxicos podem ter contaminado cabines de aviões e provocado sintomas em passageiros e tripulações. Um dos casos envolveu a comissária Florence Chesson, que relatou cheiro estranho durante o voo e, após o pouso, precisou de atendimento médico. Desde 2010, milhares de episódios semelhantes foram registrados, com aumento nos últimos anos, sobretudo em aeronaves da família Airbus A320.

Os relatos variam entre sintomas leves e sequelas permanentes. Chesson afirmou ter sofrido danos no sistema nervoso periférico e relatou confusão mental após a exposição. Segundo o neurologista Robert Kaniecki, os efeitos no cérebro são comparáveis aos observados em atletas que sofreram impactos repetitivos. Parte desses casos foi confirmada em exames clínicos e documentos médicos consultados pela investigação.

Origem da contaminação

O problema está associado ao sistema bleed air, que utiliza ar comprimido dos motores para abastecer a cabine. Quando vedações se desgastam, óleo e fluidos podem vaporizar e entrar no fluxo de ar. Fabricantes como Airbus e Boeing reconhecem que falhas podem liberar compostos como monóxido de carbono, substância considerada neurotóxica. Apenas o Boeing 787 adota outro mecanismo, sem esse risco.

Os sintomas relatados incluem visão turva, náusea, desorientação e, em alguns casos, pousos de emergência. A apuração mostrou que, embora nem todos os odores representem toxicidade, em parte dos episódios houve efeitos duradouros. O WSJ concluiu ainda que empresas aéreas e fabricantes muitas vezes minimizaram riscos ou priorizaram custos em vez de mudanças estruturais.

Medidas em debate

Órgãos reguladores, associações médicas e sindicatos defendem investigações mais amplas, protocolos de notificação padronizados e melhorias em filtragem do ar. Algumas companhias estudam ajustes técnicos e reforço de acompanhamento médico em casos de exposição. A investigação reabriu o debate sobre segurança aérea e reforçou a necessidade de transparência e prevenção para proteger tripulantes e passageiros.