Polícia Federal identifica quadrilha que usava ‘estratégia de cinema’ para fraudar concursos públicos

Criminosos eram da mesma família e chegavam a cobrar até 500 mil de interessados nas fraudes.

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A Polícia Federal identificou uma organização criminosa especializada em fraudar concursos públicos, incluindo o Concurso Nacional Unificado (CNU) de 2024. De acordo com o relatório da corporação, o grupo era formado por membros da mesma família e cobrava até R$ 500 mil por prova. Eles tinham uma estratégia de cinema e utilizavam gabaritos antecipados, pontos eletrônicos e dublês para substituir candidatos durante os exames.

Mensagens interceptadas pela PF revelam instruções detalhadas: “Leva o rascunho das respostas, lê e apaga tudo”, dizia um dos integrantes, orientando a filha sobre como agir durante a prova. A investigação aponta que a aprovação de sua mulher no concurso de auditor fiscal de trabalho servia como exemplo para atrair novos clientes. Além disso, o grupo também atuava em concursos de bancos públicos e polícias militares.

Liderança do esquema e método familiar

O líder era um ex-policial militar da Paraíba, expulso em 2021, com histórico de roubo majorado, peculato e abuso de autoridade. Ele e dois irmãos, além da sobrinha, formavam o núcleo familiar responsável pela fraude. “É importante mencionar que ele realizou a prova somente para mostrar aos seus clientes que a fraude é possível, mesmo sem participar do curso de formação”, destacou a PF. Áudios e interceptações mostraram o pagamento de comissões, lavagem de dinheiro e o uso de documentos falsos para aplicar provas com dublês.

Pagamento em dinheiro, ouro e serviços de luxo

Os investigados aceitavam pagamentos em dinheiro, ouro, motocicletas e tratamentos odontológicos de alto valor. Além da família, participavam do esquema um policial militar ativo do Rio Grande do Norte e um homem com histórico de fraudes em concursos desde 2017, responsável por obter os gabaritos. O ex-policial foi preso em 2 de outubro, após tentar obstruir as investigações apagando mensagens e se recusando a fornecer senhas.

O Ministério da Gestão afirmou que cumpre determinações judiciais e coopera com a PF e a Justiça. A investigação reforça a existência de uma estrutura criminosa hierarquizada, baseada em vínculos familiares e experiência prévia em segurança pública, que vinha atuando de forma reiterada em fraudes de grande impacto no serviço público.