O que é charuteira, a ‘falsa couve’ que tirou a vida de uma mulher e levou mais três para o hospital

Claviana Nunes da Silva, 37, estava internada desde 8 de outubro; polícia apura envenenamento acidental.

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Claviana Nunes da Silva, de 37 anos, faleceu na segunda-feira (13) em Patrocínio, interior de Minas Gerais, após complicações decorrentes da ingestão de uma planta tóxica conhecida como “falsa couve” (Nicotiana glauca). Segundo os hospitais que a atenderam, ela estava internada desde 8 de outubro e apresentou piora no domingo (12) por causa de uma lesão cerebral grave. A planta, colhida no próprio terreno, foi preparada refogada e servida em um almoço familiar. A confusão ocorreu em uma chácara na zona rural, onde a família havia se mudado recentemente e acreditava tratar-se de couve comum.

De acordo com relatos das equipes de resgate, os sintomas surgiram pouco após a refeição de quarta-feira (8), por volta das 15h. As vítimas tiveram mal-estar, dormência, fraqueza muscular, dificuldade para respirar e alterações na visão. Durante o atendimento, houve casos de parada cardiorrespiratória revertidos ainda no local por socorristas do Corpo de Bombeiros e do Samu. Quatro adultos foram encaminhados em estado grave para a Santa Casa de Patrocínio e para a UPA. Uma criança de 2 anos foi levada para observação, mas não chegou a ingerir a planta.

Estado dos internados e investigação

Além de Claviana, outras três pessoas foram hospitalizadas após a ingestão da Nicotiana glauca. Um homem de 67 anos recebeu alta no dia 9 de outubro, um dia após a intoxicação. Dois pacientes seguem internados: um homem de 64 anos foi extubado no sábado (11), está estável, respira sem ventilação mecânica, com cateter de oxigênio, e permanece na UTI para controle da pressão arterial; outro, de 60 anos, continua em estado grave, em coma induzido, respirando por aparelhos e em tratamento de pneumonia.

A Secretaria de Saúde informou que fragmentos da planta foram encontrados na arcada dentária de Claviana e, junto com outras amostras, foram enviados para análise na Fundação Ezequiel Dias (Funed), em Belo Horizonte. A Polícia Civil instaurou inquérito e a principal linha de apuração é de envenenamento acidental. O velório ocorre nesta terça-feira (14), em Guimarânia, com sepultamento às 17h no Cemitério Municipal.

Riscos da charuteira e diferenciação da couve

A charuteira, também conhecida como tabaco-arbóreo, é uma planta que costuma crescer espontaneamente em terrenos baldios e beiras de estrada, o que faz com que muitas pessoas a confundam com a couve, uma verdura muito comum nas hortas e na alimentação do dia a dia. Apesar da aparência semelhante, principalmente nas folhas, as duas plantas têm características bem diferentes. A charuteira tem folhas mais finas, alongadas e opacas, geralmente de cor verde-acinzentada, e apresenta flores amarelas em formato de tubo, que crescem em cachos nas pontas dos galhos. Já a couve tem folhas largas, grossas e brilhantes, de verde intenso, com nervuras bem marcadas e sem flores visíveis quando é colhida para consumo.

Outra diferença importante está no cheiro, na textura e no porte da planta. A charuteira tem odor amargo e desagradável, e suas folhas são secas e ásperas ao toque, enquanto a couve tem cheiro suave de verdura fresca e folhas úmidas e macias. Além disso, a charuteira cresce como um arbusto alto, podendo ultrapassar três metros de altura, enquanto a couve é uma planta baixa, típica de horta doméstica. A distinção é fundamental porque a charuteira é altamente venenosa: contém uma substância chamada anabasina, que é muito mais potente que a nicotina e pode causar intoxicação grave em poucos minutos, com sintomas como vômitos, tontura, paralisia e até parada respiratória. Já a couve é totalmente segura e nutritiva, rica em ferro, cálcio e vitaminas, sendo amplamente usada na culinária. Por isso, é essencial observar bem os detalhes das folhas e do caule antes de colher ou consumir qualquer planta parecida com a couve.