Avô lamenta morte do neto de 17 anos em operação policial mais letal do RJ: ‘Encontramos o corpo dele na mata’

O jovem Café foi uma das 121 vítimas da ação policial; avô relata último contato e desabafa sobre perda.

PUBLICIDADE

A manhã de quarta-feira, 29 de outubro, revelou uma cena desoladora na Vila Cruzeiro, Complexo da Penha, Zona Norte do Rio de Janeiro: inúmeros corpos estavam alinhados em frente a uma creche. Uma das vítimas, o jovem Café, de 17 anos, que era criado pelo avô de 63 anos, foi retirado do local pelo rabecão antes da chegada do familiar.

Sem se identificar, o avô lamentou a perda do neto, lembrando que ele era um bom instrumentista e gostava de jogar futebol. O jovem foi um dos 121 mortos no que é considerada a operação policial mais letal da história do estado.

“Mas dentro da comunidade, a gente acaba perdendo para isso aí (aponta para a fila de corpos). Você perde o filho duas vezes: uma quando ele já não consegue mais te escutar (e entra para o crime) e depois quando morre”, declarou ao jornal Extra.

Além disso, durante a conversa, o senhor de idade confessou que desenvolveu complicações cardíacas devido às ações do filho. Posteriormente, ele trouxe à memória o teor do derradeiro diálogo que teve com o jovem.

Última vez que falou com o jovem

“Falei com ele a última vez às 4h de ontem. Disse: “vou me cuidar pai, te amo muito” e mandou um coração. Depois não falou mais nada. Um amigo dele o viu sendo preso. Fomos na cidade da polícia ontem, mas o policial informou para a gente voltar hoje. E depois encontramos o corpo dele na mata”, acrescentou.

População presta apoio

Moradores da comunidade se dirigiram ao local onde os corpos foram deixados para prestar solidariedade às vítimas. Uma moradora, que preferiu manter sua identidade em sigilo, afirmou que, em seus 37 anos vivendo no Complexo da Penha, jamais presenciou uma cena semelhante, referindo-se à disposição dos corpos.

Ela destacou que não há como não se compadecer com a situação e que a intenção era mostrar a realidade enfrentada pela comunidade. Segundo a moradora, entre os mortos havia pessoas com sinais de tortura: três decapitados, outros esfaqueados e alguns sem dedos. Ela questionou o governador sobre o que ele considera correto, ressaltando que, em sua visão, a situação não pode ser considerada justa ou aceitável.