A Polícia Civil e o Ministério Público de São Paulo afirmam que Elizabete Arrabaça, 68, ré pelo falecimento da nora em Ribeirão Preto e indiciada por homicídio da filha em Pontal, apresentou padrão de atuação reiterada. Os laudos toxicológicos apontaram a presença de substância tóxica letal nos dois casos, ocorridos com pouco mais de um mês de intervalo, em fevereiro e março.
A suspeita foi presa em maio e transferida em agosto para a Penitenciária de Tremembé por questões de segurança. A defesa nega participação dela nos crimes. “Sim, ela pode ser considerada uma assassina em série. Existem dois homicídios atribuídos a ela que nós temos provas suficientes, há outros sendo investigados. As características dela são de uma pessoa que apresenta psicopatia, uma pessoa que age por impulso psicopata e total ausência de remorso”, afirma o promotor de Justiça Marcus Túlio Nicolino.
Segundo a apuração, quatro ocorrências são investigadas, duas delas com indiciamentos formais. O delegado Fernando Bravo sustenta que as circunstâncias e o método reforçam a tese de repetição de conduta: “Podemos afirmar que sim [é uma serial killer]. É o modo que ela vem envenenando, o número de casos, são quatro investigações, então, no nosso entender, sim”. Nos inquéritos já concluídos pela polícia, as vítimas identificadas são Larissa Rodrigues, 37, nora de Elizabete, e Nathália Garnica, 42, filha da investigada. Em ambos, exames laboratoriais confirmaram envenenamento por substância tóxica letal, segundo os documentos juntados à investigação.
Laudos toxicológicos e exumação confirmam envenenamento por substância tóxica letal
No caso de Ribeirão Preto, Larissa foi encontrada sem vida no apartamento em que vivia com o marido, o médico Luiz Antonio Garnica. Inicialmente tratado como falecimento suspeito, o episódio ganhou contornos criminais em maio, quando o laudo toxicológico identificou substância tóxica letal no organismo da professora.
De acordo com o MP, Larissa teria começado a ser envenenada pela sogra a mando do filho, que buscaria evitar partilha de bens em eventual divórcio. As investigações apontam que mãe e filho enfrentavam dívidas. O MP sustenta ainda que Garnica teria levado sopa com conteúdo adulterado preparado pela mãe e ministrado outras substâncias à companheira sem o conhecimento dela.
Na véspera do falecimento, a mãe do médico esteve no apartamento por cerca de quatro horas. Elizabete e o filho respondem por crime contra mulher triplamente qualificado por motivo torpe, meio cruel e uso de recurso que impossibilitou a defesa da vítima; o médico também foi denunciado por fraude processual, por supostamente alterar a cena no imóvel.
Em Pontal, a investigação sobre Nathália foi reaberta após o resultado do caso da cunhada, devido à proximidade temporal entre os episódios. O corpo de Nathália foi exumado em 23 de maio e, em 17 de junho, novo laudo confirmou a presença de substância tóxica letal. A polícia aponta que, nesse episódio, a mãe teria agido sozinha e com motivação financeira, interessada na herança da filha, que era solteira. Relatos de testemunhas e achados periciais da exumação embasam o indiciamento por homicídio. O inquérito foi remetido ao Ministério Público para análise de eventual denúncia à Justiça.
Definição de assassina em série não tem peso jurídico, dizem investigadores
Elizabete está presa desde maio e, segundo as autoridades, permanece à disposição da Justiça enquanto os procedimentos avançam. A defesa nega participação da investigada tanto no caso da nora quanto no da filha.
Para o MP, embora a classificação de assassina em série não tenha efeito legal direto, o comportamento apurado pode ser apresentado ao Tribunal do Júri. “O serial killer, na verdade, é psicopata, uma pessoa que age com motivação espúria, com premeditação, ele sabe o que está fazendo. Só tem uma personalidade, um caráter deformado, enquanto o esquizofrênico ou o doente mental é uma pessoa que não sabe, que não tem motivação, não tem consciência do que está fazendo”, afirma. A tramitação agora depende das decisões do MP sobre oferecimento de denúncia no caso de Pontal e do andamento da ação penal em Ribeirão Preto.
