A quebra do sigilo telefônico de Washington César Braga da Silva, o “Grandão”, revelou uma conversa em que o major da Polícia Militar Ulisses Estevam pede ajuda para recuperar um carro roubado. A troca de mensagens, incluída no relatório da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), embasou a megaoperação realizada nos complexos da Penha e do Alemão. No diálogo, o oficial envia a foto de um veículo e diz: “Preciso recuperar. Carro do 01. Esse eu tenho que resolver”. O caso teria ocorrido no Morro da Fé, na Penha, e envolvido a mobilização de grupos locais para encontrar o automóvel.
Segundo os documentos citados pela imprensa, o veículo foi roubado em 26 de abril e recuperado três dias depois, após Grandão acionar administradores de grupos da região para ajudar nas buscas. O major Ulisses, ainda na ativa, aparece como gestor estratégico na 5ª UPP/23º BPM, com remuneração superior a R$ 26 mil, conforme registros oficiais. Já o Portal da Transparência aponta salário líquido de R$ 18 mil no mesmo período.
Mensagem e localização do carro roubado na Penha
As mensagens anexadas ao inquérito mostram Grandão acionando o grupo “CPX da Penha” para divulgar a imagem do veículo e coordenar a recuperação. O material reforça sua influência nas comunidades da Penha e do Alemão, onde era apontado como elo entre o tráfico e agentes públicos.
Arrego, propina e contabilidade do tráfico
Relatórios indicam que ele controlava pagamentos de “arrego” — propina a policiais — para reduzir a repressão às atividades ilícitas. Mantinha, inclusive, um telefone exclusivo para comunicação com militares envolvidos e administrava escalas de segurança e eventos, como bailes.
Imagens de anotações financeiras anexadas à investigação mostram planilhas com gastos de R$ 39 mil, dos quais R$ 4,5 mil eram destinados ao “arrego”. O esquema também citava nomes como Doca, Pedro Bala e Gadernal, ligados ao comando de áreas estratégicas.
A operação, que resultou em 121 mortes, expôs uma complexa rede de cooperação entre criminosos e policiais, com uso de grupos digitais para repassar ordens e monitorar ações em tempo real. A Polícia Militar e a Secretaria de Segurança Pública não se pronunciaram até a última atualização.
