A intensa operação policial ocorrida recentemente no Rio de Janeiro continua sendo um tema de grande repercussão. Bruno Itan, um fotógrafo que testemunhou os eventos e cresceu no Complexo do Alemão, onde a ação aconteceu, compartilhou suas impressões sobre o que presenciou no episódio que chocou a capital fluminense. O relato de Itan começa na manhã do ocorrido, quando ele foi alertado por mensagens de grupos de moradores de sua comunidade sobre um grave tiroteio.
A megaoperação, conduzida pelas Polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro contra a facção Comando Vermelho nos Complexos do Alemão e da Penha, localizados na Zona Norte, resultou em números alarmantes. Segundo dados oficiais, a intervenção deixou 121 pessoas mortas e 113 indivíduos detidos.
Itan declarou à BBC que, embora o Brasil não adote a pena de morte e qualquer criminoso deva ser julgado e punido pela Justiça, nos últimos acontecimentos nos Complexos do Alemão e da Penha, o que ocorreu se assemelhou a uma execução sumária.
Fotógrafo reside na comunidade
Natural do Recife (PE), Itan mudou-se para o Complexo do Alemão aos 10 anos com a família e iniciou sua carreira como fotógrafo em 2008. Ele explica que seu trabalho costuma destacar aspectos positivos das favelas, como a diversidade cultural e a riqueza da comunidade, mas reconhece que a realidade dessas regiões também inclui situações graves e violentas.
Ao saber que cerca de 2,5 mil policiais estavam envolvidos na operação, Itan decidiu sair de sua residência na Rocinha, na Zona Sul do Rio, e se dirigir ao local para registrar os acontecimentos.
Segundo ele, após os confrontos, muitos corpos foram levados, incluindo os de policiais. Itan permaneceu na comunidade até altas horas da madrugada, registrando os acontecimentos. Durante a noite, moradores começaram a procurar pessoas desaparecidas, cujos números não correspondiam aos registros de mortos.
Na madrugada, familiares deram início às buscas na Serra da Misericórdia, que separa os Complexos da Penha e do Alemão. O delegado Felipe Curi comentou que, enquanto alguns cadáveres estavam equipados com roupas camufladas, coletes à prova de balas e armas, outros foram encontrados apenas de cueca ou shorts, descalços, sem qualquer proteção, o que ele descreveu como um verdadeiro ‘milagre’ diante da situação.
Desabafo do fotógrafo
“[Corpo] estava sem cabeça, corpos totalmente desconfigurados mesmo […] sem rosto, sem a metade do rosto, sem braços, corpos sem perna. Onde eu estou agora, não tem mais corpo, mas o cheiro fica até no psicológico. Fiquei muito impactado com a brutalidade. A dor dos familiares, mães desmaiando, esposas grávidas chorando, pais revoltados…. Eu poderia ser um desses. Se eu não conhecesse a fotografia, de repente poderia ser um deles”, disse o fotógrafo.
