Pai diz que adolescente morto em megaoperação não era vítima e afirma: ‘Eu olhei o menino no chão e sabia…’

O adolescente Michel, de apenas 14 anos, foi morto durante a megaoperação do Rio de Janeiro em combate contra a Polícia.

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O depoimento do pai de Michel, adolescente de 14 anos morto durante a megaoperação policial nos Complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, trouxe uma visão rara e dolorosa sobre a tragédia que marcou o fim de outubro. Em entrevista à BBC News Brasil, o homem preferiu não chamar o filho de vítima, afirmando que o jovem fez escolhas que o levaram a um caminho sem volta.

O pai relatou que a trajetória do filho rumo ao crime começou cedo, quando Michel passou a pilotar motos e se aproximou de pessoas envolvidas com a criminalidade. A influência das redes sociais, segundo ele, foi determinante nesse processo, já que o garoto passou a se inspirar em postagens que romantizavam o tráfico e exibiam armas e dinheiro como símbolos de status. O homem contou que chegou a questionar o filho ao ver fotos com armamento nas redes, tentando fazê-lo entender os riscos que corria.

Pai relatou tentativa de tirar Michel do crime

O pai descreveu a luta diária para resgatar Michel dessa realidade, afirmando que tentou, de todas as formas, “trazer o filho para si”. Mesmo assim, sempre que acreditava que o garoto estava em casa, descobria que ele havia saído novamente. O sentimento de impotência se misturava à esperança, até o dia da operação. Naquela manhã, antes de sair para o trabalho, o pai ligou para o menino por volta das 8h30, mas o contato foi encerrado bruscamente. Horas depois, veio a notícia que mais temia: amigos reconheceram o corpo de Michel entre os mortos.

O momento do reconhecimento foi devastador. Ao ver uma foto do corpo no chão, o pai afirmou que não teve dúvidas de que se tratava de seu filho: “Quando eu vi essa foto, eu já tinha certeza total. Eu olhei o menino no chão e sabia que era o meu menino”. Ele recordou que a posição em que Michel estava era a mesma em que costumava dormir, detalhe que o marcou profundamente.

Alerta aos jovens da comunidade

Hoje, seu discurso é voltado a outros jovens das comunidades e seus familiares. Ele afirmou que não busca culpar nem o tráfico nem a polícia, mas alertar sobre as consequências de uma vida no crime. Seu desejo é que a história de Michel sirva como reflexão e alerta, principalmente para adolescentes seduzidos por uma realidade ilusória mostrada nas redes.