A Polícia Federal atribui ao prefeito afastado de Sorocaba (SP), Rodrigo Manga (Republicanos), a liderança de uma organização criminosa supostamente estruturada para fraudar contratos públicos e lavar recursos, segundo documentos aos quais g1 e TV TEM tiveram acesso.
A decisão judicial que determinou o afastamento do cargo por 180 dias cita indícios de que as práticas estariam vinculadas ao exercício do mandato, iniciado em janeiro de 2021. Na segunda fase da Operação Copia e Cola, deflagrada na quinta-feira (6), o cunhado e o empresário do prefeito foram presos, e houve buscas na prefeitura e na residência de Manga.
De acordo com a investigação, a PF identificou a lavagem de dinheiro como um dos núcleos da suposta atuação criminosa, além de crimes antecedentes contra a administração pública. O principal mecanismo descrito é o uso de contratos de publicidade sem lastro real, firmados pela empresa da primeira-dama — a então ME, atual 2M Comunicação e Assessoria, de Sirlange Rodrigues Frate — com pessoas jurídicas ligadas a outros investigados, como a Sim Park Estacionamento Eireli, de Marco Silva Mott, e a Igreja Cruzada dos Milagres dos Filhos de Deus, vinculada a Josivaldo de Souza e Simone Rodrigues Frate Souza.
Suposto esquema de lavagem de dinheiro com contratos de publicidade em Sorocaba
Os valores rastreados nesses contratos alcançam montantes expressivos, segundo a PF: R$ 448,5 mil relacionados à Sim Park e R$ 780 mil por meio da entidade religiosa, pagos em parcelas mensais. A corporação afirma ainda ter identificado indícios de interferência direta do prefeito em processos de contratação emergencial na área da saúde. Em mensagens interceptadas, o ex-secretário Fausto Bossolo relata: “O Manga já me esculhambou hoje, pois eu havia falado que ele assinaria hoje,” em menção à assinatura do contrato emergencial da UPA do Éden. A PF também relaciona à suposta lavagem a compra de um imóvel com parte do pagamento em espécie, no valor de R$ 182,5 mil, utilizando terceiros para ocultar a origem dos recursos.
Entre os fatos descritos, o relatório destaca a contratação direta e sem procedimento regular do Instituto de Atenção à Saúde e Educação (antiga Aceni) para gerir a UPA do Éden, além de indícios de tentativa de direcionamento em licitação para a Unidade Pré-Hospitalar (UPH) da Zona Oeste, envolvendo a mesma organização social.
Conforme os documentos, as práticas teriam começado no início do mandato e se mantido por meio de contratos e pagamentos que, na avaliação da PF, buscavam dar aparência de legalidade a valores suspeitos. A operação também registrou prisões e buscas relacionadas a pessoas próximas ao prefeito, assim como o bloqueio de bens vinculados aos investigados, de acordo com os relatórios consultados pela reportagem.
Papéis de Josivaldo de Souza e Marco Mott na investigação
O cunhado de Manga, Josivaldo Batista de Souza, é apontado como possível operador financeiro do grupo. Em conversas interceptadas, foi citado como “parente aí do Manga” por outro investigado. A PF diz ter encontrado em seu celular uma “contabilidade paralela” com registros de supostas entradas de propina associadas a empresas com contratos públicos.
Já o empresário Marco Silva Mott, dono da Sim Park, é investigado por participar da estrutura de lavagem por meio do contrato de publicidade de R$ 448,5 mil com a empresa da primeira-dama; em sua residência, agentes apreenderam R$ 646.350,00 em espécie.
O relatório também atribui a Mott “enorme influência”, descrevendo sua atuação como uma “longa manus”. O g1 informou ter procurado os citados nesta etapa da apuração, sem retorno até a última atualização. A operação segue sob condução da PF e do Judiciário, com o afastamento de 180 dias de Rodrigo Manga em vigor e restrições de contato com investigados e servidores.
