Solidão no último adeus: mãe e prima são as únicas da família no enterro do jovem morto por leoa

Gerson de Melo Machado, de 19 anos, faleceu após entrar em área restrita do Parque Zoobotânico Arruda Câmara.

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O corpo de Gerson de Melo Machado, de 19 anos, conhecido popularmente como Vaqueirinho, foi sepultado nesta segunda-feira (1/12) no Cemitério do Cristo, localizado em João Pessoa. A cerimônia de despedida foi marcada pela ausência de público, contando apenas com a presença de uma prima e da mãe do jovem.

A genitora, que havia perdido o poder familiar há cerca de uma década e vive com uma condição psiquiátrica complexa, precisou comparecer ao Instituto Médico Legal (IML) para realizar o reconhecimento do corpo antes da liberação para o enterro, demonstrando emoção durante o último adeus ao filho.

O episódio que culminou no falecimento de Gerson ocorreu na manhã de domingo (30/11), quando o jovem adentrou a área restrita de uma leoa no Parque Zoobotânico Arruda Câmara, conhecido como Bica.

Para acessar o recinto, ele escalou um muro com mais de seis metros de altura, ultrapassou as grades de proteção e utilizou uma árvore como apoio para descer até o local onde estava o animal. A administração municipal de João Pessoa comunicou que todas as barreiras físicas do local estavam em conformidade com as normas de segurança estabelecidas pelo Ibama, ressaltando que a estrutura seguia os padrões exigidos.

Causa do óbito e laudo pericial

De acordo com o laudo preliminar divulgado pelo Instituto Médico Legal, a causa do falecimento foi um choque hemorrágico provocado por uma mordida na região do pescoço. O ataque resultou na perfuração de vasos cervicais importantes, o que levou ao óbito do invasor. A prefeitura da cidade também esclareceu que, apesar do ataque fatal, a felina não ingeriu nenhuma parte do corpo do jovem. As informações técnicas reforçam que o ferimento letal foi específico e causou a perda massiva de sangue, determinando o fim trágico da ocorrência no zoológico.

A trajetória de vida de Gerson foi marcada por um histórico de abandono e vulnerabilidade social extrema. Uma conselheira tutelar que acompanhou o caso por oito anos relatou que, desde os 10 anos de idade, o jovem vivenciava situações precárias.

Sua mãe enfrenta uma condição psiquiátrica complexa e também vive em situação de vulnerabilidade. Embora apresentasse indícios de transtornos neurológicos, Gerson nunca recebeu um diagnóstico oficial e jamais foi acolhido formalmente por uma família adotiva. Em diversas ocasiões, ele expressou o desejo de ser detido pelas autoridades como uma forma de escapar da fome e da falta de moradia.

Relato sobre sonhos e vulnerabilidade

A profissional que acompanhou o crescimento de Gerson lamentou profundamente o desfecho da vida do rapaz, recordando as aspirações que ele manifestava desde a infância. “Ele sonhava em domar leões, desde criança já falava em ir para a África , mas era vulnerável demais para esse sonho”. Quanto ao apelido pelo qual era conhecido, Vaqueirinho, não existem registros públicos ou informações confirmadas que expliquem a origem dessa denominação. O caso encerra-se com o sepultamento solitário de um jovem cuja vida foi atravessada por dificuldades sociais e institucionais.