Uma parte da categoria dos transportadores rodoviários de cargas convocou greve dos caminhoneiros para esta quinta-feira (4/12), com projeção de adesão nas cinco regiões do país, mas com foco principal no Sudeste e no estado de São Paulo. A mobilização é liderada pela União Brasileira dos Caminhoneiros (UBC), que tem como um de seus representantes Francisco Burgardt, conhecido como Chicão Caminhoneiro. No início da semana, lideranças do movimento estiveram no Palácio do Planalto para protocolar um ofício comunicando o governo federal sobre a intenção de interromper as atividades. Apesar da convocação, o cenário é de incerteza, visto que há divergências significativas entre as diferentes entidades que representam o setor sobre a viabilidade e os reais motivos do ato.
As reivindicações apresentadas pela ala favorável ao movimento englobam uma série de pedidos voltados à seguridade e condições de trabalho. Entre os pontos principais estão a estabilidade contratual, a reestruturação do Marco Regulatório do Transporte de Cargas e a concessão de aposentadoria especial após 25 anos de atividade comprovada. A organização afirma buscar amparo legal para a manifestação, contando com o suporte do ex-desembargador Sebastião Coelho. A estratégia divulgada pelos organizadores prevê o início gradual da interrupção em mais de 40 pontos pelo território nacional, com a promessa de respeitar a legislação e não impedir o trânsito de veículos de passeio, focando apenas na parada dos veículos de carga.
Reivindicações e divergências sindicais
Apesar da organização, importantes lideranças e associações se posicionaram contra a greve, alegando falta de consenso e receio de instrumentalização política. Entidades como a Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL) não apoiam a iniciativa. O deputado federal Zé Trovão (PL-SC) também criticou o ato, sugerindo que a pauta atende a interesses próprios. Existe uma preocupação entre os opositores de que a paralisação seja utilizada para pedir anistia a envolvidos em atos antidemocráticos, embora os organizadores neguem oficialmente essa intenção e afirmem que o foco é estritamente profissional.
Sobre a natureza do movimento e a expectativa de participação, Chicão Caminhoneiro declarou: “É uma proposição nacional para os cerca de 1,2 milhão de caminhoneiros autônomos do País. Vemos grande aderência neste movimento, mas as pessoas são livres para dizer se querem vir participar ou não”. Ele reforçou o caráter técnico da mobilização: “Nós não podemos misturar as coisas, com movimento político. Estamos falando somente da questão de transporte”. Em contrapartida, Wallace Landim, o Chorão, presidente da Abrava, alertou sobre o risco de desvio de finalidade: “A pauta da anistia será chamada em meio a essa mobilização. Não é justo levantarmos uma pauta dessa, porque é uma pauta política, de fato”.
Histórico e impacto no abastecimento
A estimativa da UBC é de que cerca de 20% da categoria participe da mobilização inicial. O cenário atual difere do contexto de 2018, quando uma greve de grandes proporções paralisou o abastecimento no Brasil por dez dias durante a gestão de Michel Temer. Desta vez, cooperativas importantes, como a do Porto de Santos, já adiantaram que não irão aderir, justificando a ausência de assembleias prévias para deliberar sobre o tema. O governo federal monitora a situação, enquanto a expectativa geral do mercado é de uma adesão baixa, restrita a ações localizadas e regionais, sem o potencial imediato de causar desabastecimento generalizado de combustíveis ou alimentos.
