Durante a sessão realizada nesta quarta-feira (10), a bancada do Partido Liberal (PL) entregou 75 votos favoráveis ao projeto de lei conhecido como “PL da Dosimetria”. A proposta legislativa tem como objetivo reduzir as penas do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outros réus condenados por envolvimento na tentativa de golpe de Estado ocorrida em 2023.
Apesar da orientação partidária majoritária, a votação não foi unânime dentro da legenda, registrando ausências significativas e um voto contrário que chamou a atenção nos bastidores de Brasília, justamente em um momento em que a sigla busca diminuir pela metade o tempo de regime fechado para o ex-chefe do Executivo.
Entre os parlamentares da sigla, apenas o deputado Osmar Terra (PL-RS) posicionou-se contra a medida, integrando o grupo de 148 votos “Não” contabilizados na Câmara dos Deputados. Além da divergência de Terra, outros dez deputados do PL não compareceram à sessão para registrar o voto.
A lista de ausentes inclui figuras proeminentes do bolsonarismo, como Carla Zambelli (PL-SP), Alexandre Ramagem (PL-RJ) e o próprio filho do ex-presidente, Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Completam a lista de faltosos os deputados Detinha (PL-MA), João Carlos Bacelar (PL-BA), Josimar Maranhãozinho (PL-MA), Matheus Noronha (PL-CE), Pastor Gil (PL-MA) e Wellington Roberto (PL-PB).
Trajetória política e atuação na pandemia
Osmar Terra, que até o momento não emitiu comunicado oficial justificando seu voto contrário, possui um histórico político que antecede sua adesão ao bolsonarismo. Médico formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ele foi militante estudantil e opositor do regime militar, época em que sua então companheira foi torturada pelo coronel Carlos Brilhante Ustra.
Após a redemocratização, construiu carreira no Rio Grande do Sul e em Brasília, servindo como ministro do Desenvolvimento Social no governo Michel Temer e ministro da Cidadania na gestão Bolsonaro, cargo do qual saiu em 2020 para dar lugar a Onyx Lorenzoni.
O deputado gaúcho ganhou notoriedade durante a crise sanitária iniciada em 2020, quando atuou como conselheiro informal do Planalto. Na ocasião, minimizou as projeções sobre o impacto do vírus e organizou reuniões com médicos que defendiam tratamentos alternativos em detrimento da vacinação imediata. Apesar de suas previsões iniciais otimistas não se concretizarem, Terra manifestou-se posteriormente sobre as perdas humanas no país. Em uma publicação da época, ele escreveu: “Que a gente reflita sobre nossa fragilidade diante das forças da natureza e aprenda a enfrentá-las melhor, agora e no futuro”.
Articulação para 2026 e trâmite no Senado
A aprovação do texto na Câmara ocorre em um contexto de reorganização da direita para as próximas eleições gerais. A articulação para a votação ganhou força após o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) posicionar-se como o pré-candidato do grupo político para o pleito presidencial de 2026. O projeto, que agora segue para análise do Senado Federal, é visto como fundamental para a estratégia da defesa de Jair Bolsonaro, pois, se aprovado e sancionado, poderia permitir que o ex-presidente deixasse o regime fechado até o ano de 2029.
